22/08/2006

Escola!

Hoje sinto saudades da escola!
Saudades dos meus passarinhos, das suas traquinices e dos seus amores.

A escola sem eles fica sem alma.
Um professor sem alunos sente-se inútil.

Cansam?
Claro que cansam.
Desestabilizam porque a idade os manda desestabilizar.
Se não houvesse alunos de que serviria a escola?
É para eles e com eles que eu vivo (a família nunca é posta de parte, risos, mesmo quando estamos enterrados até às orelhas nos problemas que lá surgem diariamente e pensam que desapareceram do nosso horizonte mais próximo, risos e mais risos).

É vê-los a desabrochar para o mundo e para as suas solicitações!

Tal como os passarinhos gostam de se sentir no ninho, debaixo da asa da mãe.
Mas, também como os passarinhos, necessitam de ensaiar outros voos e fugir ao olhar atento dos mais velhos.
É a lei natural!
Voam até outros aconchegos mas voltam sempre ao ninho onde sentem amparo e conforto...
A alegria de partilhar experiências e de viver outras onde muitas vezes encontram o olhar acusador dos que não os entendem ou não querem entender...
De mão dada buscam o prazer da experiência do outro.

É vê-los, então, a passear as suas cumplicidades e a vontade de se mostrarem crescidos.
Brincam, jogam à bola, leêm pouco (isso é uma maçada!) e ensaiam os primeiros passos de um namoro adolescente feito de beijos e carícias a imitar os amores que passam, até à exaustão, nas telenovelas (que não vejo, mas devia ver para perceber quais são os seus ídolos).

À segunda-feira o tema é recorrente: futebol.

Chamos-lhes muitas vezes de índios.
Não entendem!
Índios são os maus das fitas.
Para mim representam a ternura do inconsequente e da luta por um lugar na vida que os vê viver. Lutam pelo reconhecimento e pela integração num mundo que lhes é hostil, enveredando muitas vezes por caminhos perigosos e quase sempre sem saída.

Por que carga de água é que estou, hoje, a puxar para a melancolia?
É muito simples: recebi um mail da menina que se está ver, a cada dia que passa, mais dependente, pois já perdeu a faculdade da escrita e de quase toda a autonomia. Apenas escreve com os polegares. (Dizia ela voltada para a mãe: Estou tão dependente que até preciso que vistas as cuecas...)
E deu-me um presente. Colocou no wall paper do meu portátil uma fotografia da turma com um obrigada cheio de ternura.
Foi a prenda mais bonita e mais sentida que recebi nos últimos tempos, pois é uma prenda feita coração/oração. É a alegria estampada num rosto sofrido que não se vê desamparado.

Tenho tantas saudades dos meus passarinhos!

No entanto agradeço ao Pai a minha profissão.
Ser professora é o constante renovar a vida e a vontade de crescer até ao Infinito.
Mas o crescimento dói pois implica entrega sem limites e o esquecer-se de si próprio.
Ser Peregrina e ser Andante, para mim, é isto: crescer e ver crescer de maneira que a estrada, sendo sinuosa, me leve, um dia, a ver o rosto glorioso do Pai de Amor.

Obrigada!

2 comentários:

um irmão. disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
um irmão. disse...

Um dia destes deixo uma partilha sobre algum passado da escola de de um certo Mestre-escola!!.risos.. sim a escola... tb sinto saudades...