
Hoje vou eu querer conversar e não respondes.
Insisto e fazes “ouvidos de mercador”.
Deixa lá! Mesmo assim espero pelo teu tempo que, eu sei, é diferente do meu tempo. Estou sempre com pressa! Faço muitas das “minhas coisas” por impulsos e de forma apressada.
Hoje o exercício é “para a contenção”.
Respirar correctamente.
Inspirar e expirar lentamente.
Relaxar a partir dos pés.
Ai os pés!
Ontem saí, cozinhei, lavei louça e computador. Lavei e estendi roupa.
À noite estavam com o dobro do tamanho. Estão a ficar escuros, o pisado começa a sair, e doem.
Arranjei a bonita!
Os locais da entorse estavam vermelhos e brilhantes e intumescidos. Só voltaram ao normal durante a noite. Dormi com eles bem levantados. A posição para dormir é bem desconfortável, mas é a única possível.
Mas voltemos ao exercício: relaxar a partir dos pés e sentir a “paz” subir até me sentir liberta de pesos e pressões.
Começo a ficar pronta para te ouvir…
Saí de casa e fui até ao cimo da Serra da Freita, lá para os lados de Arouca.
Vejo a queda de água na Frecha da Misarela (há que lhe chame também de Mijarerla, ihihih).
Minguem à volta. Apenas eu, tu, a natureza e o canto da água a cair.
Volto a viver a Caminhada Jovem de há dois anos na Quaresma de 2007. Esta caminhada pretende pôr os jovens da paróquia a meditar e a contactar com a natureza. Realiza-se no domingo anterior os Domingo de Ramos, dia em que a Igreja desafia os jovens de todo o mundo a não passar ao lado das coisas. Como a celebração do Dia Mundial da Juventude também lhes pertence, este ano vamos meditar nas figuras femininas da Bíblia, temos que fazer o nosso percurso e meditá-lo uma semana antes. Este ano vamos até Ponte de Lima.
Estou só. De vez em quando lá passa um carro. Abranda e pára.
- Precisa de alguma coisa? Está perdida?
Respondo:
- Obrigada! Tudo bem!
Longe do centro ainda se nota interesse e solidariedade. Quero acreditar que não é pelo insólito de ver um carro parado e uma mulher parada, apenas a olhar.
- Já reparaste que hoje se inverteram os papéis?
- Não é tu a chamar-me.
- Vá lá, quero-te aqui, junto de mim. Vamos sentar-nos.
E… nada.
Sussurro o te nome.
Yeshu, Yeshu, Yeshu.
Sem resposta.
Afasto-me, isolo-me mais e grito-te:
Yeshu, Yeshu, Yeshu.
Volto a sentar, já quase desesperada!
O desalento começa a tomar conta de mim.
As lágrimas descem como rios em direcção à foz.
O que é que está errado?
Onde é que eu falhei?
E chega a brisa suave que seca a água salgada do meu choro. Envolve-me e inicia o seu canto doce junto dos meus ouvidos. E diz-me que, afinal, não estou só. Diz-me que sempre estiveste comigo.
Muito admirada perguntei: Como?
Continuavas cheia de escamas: nos olhos, nos ouvidos, no coração. As escamas começaram a cair quando baixaste a guarda, quando te abandonaste e despejaste tudo o que estava a mais, quando te sentiste mais indefesa.
E compreendi quando sussurraste mais uma vez:
- Maria, Maria, Maria.
- Aprende. Eu nunca te abandono. Sei o teu rosto de cor e passeio-me nele sem pudor. Sinto-o nas minhas mãos, na proximidade mais íntima. Sinto-o na paixão de te saber única, porque és tu.
- Sabes o que dizia a raposa ao principezinho?
“Cativa-me”
- E tu cativaste-me, como eu te cativei.
- Já viste a doçura do teu nome?
- Maria, Maria, Maria.
- E és o céu. Sabes bem porquê!
- Vá. Deixa-te envolver pela brisa suave e abandona-te como eu me abandonei.
- Experimenta a vida plena e deixa que ela vá acontecendo, em ti, no turbilhão dos dias que passam, nos desencontros e até, quem sabe, nos desentendimentos. Vá lá, descobre tudo o que é positivo e… vive.
Agora, vamos deixar-nos encantar pela água que salta da montanha e escorre alegremente para a paz, para junto do rio e do mar que as irão abraçar quando lá chegarem, acolhê-las e dizer-lhes que são membros dessa grande comunidade que dança e volteia com a felicidade de estarem novamente juntas. É esse o encontro que te está prometido, na glória do meu Pai.
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