Colo 2

Hoje foi dia de colo!

A Cláudia combinou comigo encontrarmo-nos pelas 14H15, na escola.
Rimos, brincamos, conversamos...

Meu Deus que madura e apenas com 15 anos!

Falou-me do fim-de-semana na quinta, na apanha das nozes e das castanhas.
Eu não apanho, disse .
Então?
Digo que tenho que estudar e ando com a mota a transportar o que os meus pais apanham.
Sabida! O que ela não quer é o trabalho pesado e os pais, finjem que não percebem, e deixam-na ser feliz.
Brincadeira daqui, salto para ali e lá anda ela toda feliz.

A conversa passou por tudo, menos pelas lágrimas. Hoje foi dia de descontracção.
Abriu a alma e falou das paixões.
Falou dos e das colegas. Nada de queixinhas, apenas alguma tristeza por que está lentamente a ser ultrapassada por novas amizades e novos namoricos por parte das amigas do ano anterior.
A conversa vai cair na Soraia.
Sabe, a Soraia está pior que eu. Não pode abrir as mãos!...
Que doce de menina!
Além de carregar o seu próprio problema, carrega também o da amiga.
Pensei cá com os meus botões: que exemplo de ser cristão!
Não gosta de a ver só e, por isso, deixa o grupo em que está inserida e senta-se junto dela. A Soraia nem se apercebe do sacrifício.
É demasiado absorvente!
Pudera! Sem poder servir-se das mãos!

Voltando à Cláudia.
Ia a conversa animada e, sem mais nem menos, disse:
Eu sou virgem!
Respondi-lhe que não era preciso dizer, pois eu sabia.
É verdade, sou virgem porque quero. Se não tivesse tido vontade, no momento certo, já não era.
O diálogo enveredou por esse campo e falamos com a maior abertura.

No fim fez a revelação final que me deixou a admirá-la ainda mais.
Na terça-feira vou ao IPO. Estou preparada para voltar à quimioterapia.
Fiquei fria com a serenidade com que falou.
Sabe, tenho lá o gorro, o chapéu e os casacos.
Estão prontos para voltarem a ser usados...
Não posso ir ao teatro. A directora de turma está a ver se eu vou noutro dia.
Já sabe que à quarta-feira, por norma, não vou à escola, apenas para as reuniões. Está combinado. Se o tal dia for a quarta, lá vamos nós as duas. Espero que valha a pena, porque isto promete... Vou na terça com a minha turma e na quarta com a Cláudia.

Como de uma conversa informal, e é apenas isso, pode sair tanta confiança!
Não vou voltar a ser professora dela, visto que enveredou pelas ciências.

Dediquei-lhe parte da minha tarde e cheguei muito mais rica.

Nunca pensei que poderia tornar-me confidente de uma adolescente!

Podia não ter feito mais nada, podia reformar-me que, tanto no plano profissional como no humano, tive aqui a minha vitória.
Não estou a envaidecer-me, acreditem que é verdade, estou a tentar dizer que, pela primeira vez, estou a viver e a compreender o sentido cristão da vida.
O da entrega sem esperar nada. Dar por dar para fazer alguém feliz.

Agora, todas as segundas, lá vamos nós para a grande conversa... está combinado.
Ela abdica da ginástica e eu, pobre peregrina da vida, lá vou beber mais um bocado da sabedoria desta princesa da alegria e da vontade de viver...