

Tenho tido dias estranhos…
Aniversários, aulas e catequese. Pelo meio estive na via-sacra animada pelos jovens e voltei a passar algumas horas com eles depois do “acidente” que me deixou fora de combate durante alguns dias. São irreverentes, brincalhões e muito bem dispostos. Um deles, o Nuno, está de castigo e não esteve presente. Tem tido problemas de comportamento na escola. É muito engraçado e sensível, mas irreverente que baste. Já conseguimos controlá-lo, mas ainda não é suficiente. Quando digo controlar, não pode ser entendido no sentido real da palavra, mas pela responsabilização.
Estamos a preparar a Caminhada Jovem.
Esta Caminhada tem como objectivo ajudar os jovens da paróquia a preparar-se para a Pascoa. Há mais de sessenta jovens inscritos.
Bem bom!
Só tem um significado:
Os jovens não estão a dormir.
Num post anterior já tinha dito que íamos até Ponte de Lima. Agora especifico melhor. O local escolhido é um parque urbano e é conhecido por “Lagoas de Bertiandos”. Quando foi inaugurado teve honras de televisão e é de uma beleza incalculável.
Foi bem escolhido e apela à meditação.
Ainda não sei muito bem se vou conseguir caminhar.
Ainda falta uma semana…
Na quarta-feira o meu filho fez anos.
Foi há 28 anos que lhe vi o rosto pela primeira vez, mas já o amava. Mexia-se, dava pontapés. Enfim, tudo normal!
Foram 28 anos de muitos temores, angústias e mais, muitas mais alegrias. E tanta cumplicidade!
Caminhamos juntos!
Crescemos juntos!
Aprendemos a conhecer-nos.
Basta olhar-lhe nos olhos, sentir uma respiração mais profunda, para perceber quando algo está menos bem.
Tem 28 anos e ainda faz confidências, como se apenas fosse adolescente.
Conversamos e partilhamos alegrias e preocupações.
É um jovem adulto, bonito (orgulho de mãe) e consciente.
É duro quando chama a atenção e muito meigo.
Tem tantas qualidades!
E tantos defeitos…
Mas… a perfeição conquista-se e consegue-se só no fim.
No dia do aniversário deixou-me particularmente satisfeita. Voltou às aulas!
Já não o fazia desde que o pai esteve internado e, como é óbvio, não fez nenhuma cadeira.
Será que a idade começa a pesar-lhe?
Ando todo atarefado com apontamentos para começar a preparar os exames.
Ontem foi o pai que celebrou o aniversário.
Era vê-lo de telemóvel na mão à espera dos telefonemas que iam chegando.
Fomos festejar em casa de amigos.
Havia velhos conhecidos e jovens.
A propriedade situa-se em Gondomar, a 6 quilómetros do Porto.
Está arborizada e cheio de sons da Natureza.
Todos os que lá estavam são membros de associações de defesa do ambiente.
Já me fazia falta um banho de verde.
Lá ao fundo o rio desce molengão para a foz, a água espelha o azul do céu e as cores do entardecer. Ora vermelho, ora cinzento, ora laranja.
E paro e ouço.
As aves, com o entardecer, ficam mais activas e esvoaçam por tudo quanto é sítio. E vão comer sementes aos alimentadores que estão espalhados por toda a propriedade. Aqui não têm que perder tempo a lutar pelo “pão de cada dia”.
Os cães enlouquecem, sobretudo o Manolo, disparam a correr de um lado para o outro e com laranjas na boca lá vão abrir mais uma cova para armazenar alimentos para dias de necessidade. Instinto animal.
A gata prepara-se para a caçada.
E eu afasto-me!
Há tantos recantos para, sozinha, agradecer os momentos de paz e serenidade que se vão construindo.
Consegui isolar-me durante mais de trinta minutos.
O filme começa a desenrolar-se e as lágrimas assomam.
Não. Não pode ser. Não posso estragar o dia.
Continuo e falo contigo, sei que não estou só.
O diálogo é intenso e proveitoso.
Mais uma vez chamas com carinho pelo meu nome, como só tu o sabes fazer,
Aproveito o momento e deixo-me embalar e sonhar.
Mas… ouço chamar e, acabou-se.
Teremos com certeza muitos mais momentos para nós.
Já em casa, tarde, recebo um telefonema que me perturbou e contristou.
O João, do Grupo Especial de Catequese, foi obrigado pela mãe a ligar-me. Passava das 22H30.
A mãe é camionista, bruta e pouco culta.
Demonstra falta de respeito pelo filho e faz valer uma vontade grosseira e pouco educada.
O João foi baptizado em Janeiro e quer fazer a primeira comunhão.
A mãe decidiu que ele não vai voltar à catequese.
Obrigou o filho a ligar-me e a dizer-me uma série de mentiras, que vai mudar de casa, mas não sabe para onde.
Do lado ouvia-se a mãe:
- Despacha isso e acaba com a conversa.
Para não lhe causar mais dissabores disse-lhe que ficava muito triste e que aparecesse quando quisesse.
O João estava triste e eu fiquei revoltada.
Não aceito tanto falta de respeito.
Já estabeleci os meus contactos e espero que a vontade do João seja respeitada.
O João é um adolescente contido e de poucas falas. Tem 14 anos.
Um dia. Em conversa disse-me:
- Ó MC, eu nunca me entusiasmo com nada, nem sinto nada cá dentro.
Agora fiquei a perceber o motivo.
O meu pensamento e meu desabafo foi o que vou transcrever:
“Há mães que não merecem os filhos que têm!”
Esta não merece o filho, pois não quer deixá-lo desabrochar.
E eu que tinha tanta esperança em ‘apanhá-lo’ para o grupo de jovens!
Valia a pena a aposta.
1 comentário:
Olá, foi muito bom vir a este cantinho "ouvir" a tua voz, já temos saudades tuas, tás sempre no nosso coração. Gostei muito desta partilha, faz-me sentir mais próxima de ti. Sabes fiquei com vontade de conhecer esse pedaço de Natureza, ás vezes parece tudo tão cinzento, tanto cimento, tanta máquina, e tão pouco do cheiro e do sabor que nos foi dado de uma forma tão bela, tão gratuita. Ao "ouvir-te" falar do teu filho suscitou em mim um desejo tão grande de um dia poder partilhar do mesmo jeito essa cumplicidade, e quanto miudo, acho que nos resta rezar para que Deus dê Inteligência Emocional áquela mãe, e persistência e coragem ao miudo, para começar a lutar pelos sonhos que me parece lhe vão assaltando a mente e o coração.
Beijinhos
Susana e Jorge
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