22/03/2009

Dias!



Tenho tido dias estranhos…

Aniversários, aulas e catequese. Pelo meio estive na via-sacra animada pelos jovens e voltei a passar algumas horas com eles depois do “acidente” que me deixou fora de combate durante alguns dias. São irreverentes, brincalhões e muito bem dispostos. Um deles, o Nuno, está de castigo e não esteve presente. Tem tido problemas de comportamento na escola. É muito engraçado e sensível, mas irreverente que baste. Já conseguimos controlá-lo, mas ainda não é suficiente. Quando digo controlar, não pode ser entendido no sentido real da palavra, mas pela responsabilização.

Estamos a preparar a Caminhada Jovem.

Esta Caminhada tem como objectivo ajudar os jovens da paróquia a preparar-se para a Pascoa. Há mais de sessenta jovens inscritos.

Bem bom!

Só tem um significado:

Os jovens não estão a dormir.

Num post anterior já tinha dito que íamos até Ponte de Lima. Agora especifico melhor. O local escolhido é um parque urbano e é conhecido por “Lagoas de Bertiandos”. Quando foi inaugurado teve honras de televisão e é de uma beleza incalculável.

Foi bem escolhido e apela à meditação.

Ainda não sei muito bem se vou conseguir caminhar.

Ainda falta uma semana…

 

Na quarta-feira o meu filho fez anos.

Foi há 28 anos que lhe vi o rosto pela primeira vez, mas já o amava. Mexia-se, dava pontapés. Enfim, tudo normal!

Foram 28 anos de muitos temores, angústias e mais, muitas mais alegrias. E tanta cumplicidade!

Caminhamos juntos!

Crescemos juntos!

Aprendemos a conhecer-nos.

Basta olhar-lhe nos olhos, sentir uma respiração mais profunda, para perceber quando algo está menos bem.

Tem 28 anos e ainda faz confidências, como se apenas fosse adolescente.

Conversamos e partilhamos alegrias e preocupações.

É um jovem adulto, bonito (orgulho de mãe) e consciente.

É duro quando chama a atenção e muito meigo.

Tem tantas qualidades!

E tantos defeitos…

Mas… a perfeição conquista-se e consegue-se só no fim.

No dia do aniversário deixou-me particularmente satisfeita. Voltou às aulas!

Já não o fazia desde que o pai esteve internado e, como é óbvio, não fez nenhuma cadeira.

Será que a idade começa a pesar-lhe?

Ando todo atarefado com apontamentos para começar a preparar os exames.

 

Ontem foi o pai que celebrou o aniversário.

Era vê-lo de telemóvel na mão à espera dos telefonemas que iam chegando.

Fomos festejar em casa de amigos.

Havia velhos conhecidos e jovens.

A propriedade situa-se em Gondomar, a 6 quilómetros do Porto.

Está arborizada e cheio de sons da Natureza.

Todos os que lá estavam são membros de associações de defesa do ambiente.

Já me fazia falta um banho de verde.

Lá ao fundo o rio desce molengão para a foz, a água espelha o azul do céu e as cores do entardecer. Ora vermelho, ora cinzento, ora laranja.

E paro e ouço.

As aves, com o entardecer, ficam mais activas e esvoaçam por tudo quanto é sítio. E vão comer sementes aos alimentadores que estão espalhados por toda a propriedade. Aqui não têm que perder tempo a lutar pelo “pão de cada dia”.

Os cães enlouquecem, sobretudo o Manolo, disparam a correr de um lado para o outro e com laranjas na boca lá vão abrir mais uma cova para armazenar alimentos para dias de necessidade. Instinto animal.

A gata prepara-se para a caçada.

E eu afasto-me!

Há tantos recantos para, sozinha, agradecer os momentos de paz e serenidade que se vão construindo.

Consegui isolar-me durante mais de trinta minutos.

O filme começa a desenrolar-se e as lágrimas assomam.

Não. Não pode ser. Não posso estragar o dia.

Continuo e falo contigo, sei que não estou só.

O diálogo é intenso e proveitoso.

Mais uma vez chamas com carinho pelo meu nome, como só tu o sabes fazer,

Aproveito o momento e deixo-me embalar e sonhar.

Mas… ouço chamar e, acabou-se.

Teremos com certeza muitos mais momentos para nós.

 

Já em casa, tarde, recebo um telefonema que me perturbou e contristou.

O João, do Grupo Especial de Catequese, foi obrigado pela mãe a ligar-me. Passava das 22H30.

A mãe é camionista, bruta e pouco culta.

Demonstra falta de respeito pelo filho e faz valer uma vontade grosseira e pouco educada.

O João foi baptizado em Janeiro e quer fazer a primeira comunhão.

A mãe decidiu que ele não vai voltar à catequese.

Obrigou o filho a ligar-me e a dizer-me uma série de mentiras, que vai mudar de casa, mas não sabe para onde.

Do lado ouvia-se a mãe:

- Despacha isso e acaba com a conversa.

Para não lhe causar mais dissabores disse-lhe que ficava muito triste e que aparecesse quando quisesse.

O João estava triste e eu fiquei revoltada.

 Não aceito tanto falta de respeito.

Já estabeleci os meus contactos e espero que a vontade do João seja respeitada.

O João é um adolescente contido e de poucas falas. Tem 14 anos.

Um dia. Em conversa disse-me:

- Ó MC, eu nunca me entusiasmo com nada, nem sinto nada cá dentro.

Agora fiquei a perceber o motivo.

O meu pensamento e meu desabafo foi o que vou transcrever:

“Há mães que não merecem os filhos que têm!”

Esta não merece o filho, pois não quer deixá-lo desabrochar.

E eu que tinha tanta esperança em ‘apanhá-lo’ para o grupo de jovens!

Valia a pena a aposta.

 

 

 

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá, foi muito bom vir a este cantinho "ouvir" a tua voz, já temos saudades tuas, tás sempre no nosso coração. Gostei muito desta partilha, faz-me sentir mais próxima de ti. Sabes fiquei com vontade de conhecer esse pedaço de Natureza, ás vezes parece tudo tão cinzento, tanto cimento, tanta máquina, e tão pouco do cheiro e do sabor que nos foi dado de uma forma tão bela, tão gratuita. Ao "ouvir-te" falar do teu filho suscitou em mim um desejo tão grande de um dia poder partilhar do mesmo jeito essa cumplicidade, e quanto miudo, acho que nos resta rezar para que Deus dê Inteligência Emocional áquela mãe, e persistência e coragem ao miudo, para começar a lutar pelos sonhos que me parece lhe vão assaltando a mente e o coração.

Beijinhos

Susana e Jorge