27/04/2009

Rufus III


Bendito Rufus!

Continuo a saborear a tua partilha e começo a entender muitas coisas que já me tinham dito mas ainda não estavam claras.

Tal como tu, mesmo sem perceber, já caminhava com um sentido e um objectivo: conhecer-me para conhecê-Lo.

E também eu tento percorrer a memória da minha Fé.

O percurso tem sido pouco linear.

Tantos esquecimentos!

Tantas derrotas!

Tantas fugas e desistências!

Não entendia nem queria entender e as coisas pareciam fáceis. Estava acomodada e pouco inquietada! Tinha que manter o status quo de modo a não fazer ondas. Sem acreditar no destino, entregava-lhe tudo o que ia acontecendo, sem grandes interrogações.

Por tradição fui baptizada, tu não.

Sei o dia, mas não me lembro como tudo se passou.

Tu ficaste a ganhar!

Escolheste e tomaste parte, com toda a tua vontade, seriedade e confiança.

Entendeste o que Jesus disse a Nicodemos:

Tens que nascer de novo.

Coisa estranha e muito bonita: nascer de novo.

Este nascer de novo chama-se Re-nascer pela Água e pelo Espírito.

Por tradição fui à catequese.

Tu não. Tu escutaste, à socapa a carta que Inácio tinha enviado aos irmãos de Roma. Tu escolheste seguir Tito e iniciar um novo caminho que te ia levar, sabias lá, até ao limite das tuas forças.

Mas por opção, Rufus, decidi ser catequista e transmitir a minha fé.

Por opção decidi ser leitora e apregoar a palavra.

Por opção decidi ser “guia” de jovens e reunir, com eles, semanalmente para que possamos continuar a crescer e a fazer caminho.

E tantas opções acarretaram uma série de sarilhos e desafios:

- Saber mais

- Caminhar mais

- Procurar mais

E comecei a busca!

Formações.

Encontro, semanal, com companheiros que começaram a sentir as mesmas necessidades.

Saber mais para perceber!

Tornei-me uma insatisfeita.

Comecei a perceber que não estou sozinha e, para caminhar, preciso dos outros e de outros.

Comecei a dar os “primeiros passos” no sentido da vida.

Neste constante vai-vém comecei por perceber que ele queria mais de mim.

Queria e quer.

E eu vou-me deixando guiar, não esquecendo aquilo que fui e o que quero ser.

A memória da minha fé é importante, mas mais importante é o que eu quero ser.

Isto de saber mais implica empenho e coragem, implica compromisso.

Tenho que me tornar um arauto do meu Senhor!

E o caminhar deixa de ser, a cada dia que passa, menos oscilante, tornando-se preciso e comprometido.

 

Ontem, na eucaristia, dizia-se, pela boca de Lucas, nos Actos dos Apóstolos, “arrependei-vos e convertei-vos, para que os vossos pecados sejam perdoados”. E é por aqui que temos que começar. Pelo reconhecimento das nossas fragilidades para caminhar com mais e maior confiança de olhos postos em Yeshu.

É então que chegam as necessidades: saber mais para não desprestigiar a minha memória que percorreu toda a minha existência e me tornou naquilo que sou hoje, naquilo que quero ser e fazer.

A história do povo de Deus não é uma história voltada para a frente, mas uma história que é e que foi.

O que ficou lá atrás é tão importante como o que está a acontecer hoje.

O hoje é consequência da história que já percorreu vários milhares de anos e que teve o seu ponto máximo no sacrifício, pela verdade, de Jesus.

Hoje somos seus herdeiros e, como tal, temos que continuar a sua história, enfrentando, sem temor, as adversidades que nos queiram infligir para o negarmos.

E são tantas as negações!

Basta-nos olhar no espelho.

Sabes, Rufus, a tua “memória agradecida da tua Fé” veio lembrar-me que também eu tenho memória e que, tal como tu, estou bem agradecida pela minha Fé e por ser o que sou e como sou.

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