Bendito Rufus!
Continuo a saborear a tua partilha e começo a entender muitas coisas que já me tinham dito mas ainda não estavam claras.
Tal como tu, mesmo sem perceber, já caminhava com um sentido e um objectivo: conhecer-me para conhecê-Lo.
E também eu tento percorrer a memória da minha Fé.
O percurso tem sido pouco linear.
Tantos esquecimentos!
Tantas derrotas!
Tantas fugas e desistências!
Não entendia nem queria entender e as coisas pareciam fáceis. Estava acomodada e pouco inquietada! Tinha que manter o status quo de modo a não fazer ondas. Sem acreditar no destino, entregava-lhe tudo o que ia acontecendo, sem grandes interrogações.
Por tradição fui baptizada, tu não.
Sei o dia, mas não me lembro como tudo se passou.
Tu ficaste a ganhar!
Escolheste e tomaste parte, com toda a tua vontade, seriedade e confiança.
Entendeste o que Jesus disse a Nicodemos:
Tens que nascer de novo.
Coisa estranha e muito bonita: nascer de novo.
Este nascer de novo chama-se Re-nascer pela Água e pelo Espírito.
Por tradição fui à catequese.
Tu não. Tu escutaste, à socapa a carta que Inácio tinha enviado aos irmãos de Roma. Tu escolheste seguir Tito e iniciar um novo caminho que te ia levar, sabias lá, até ao limite das tuas forças.
Mas por opção, Rufus, decidi ser catequista e transmitir a minha fé.
Por opção decidi ser leitora e apregoar a palavra.
Por opção decidi ser “guia” de jovens e reunir, com eles, semanalmente para que possamos continuar a crescer e a fazer caminho.
E tantas opções acarretaram uma série de sarilhos e desafios:
- Saber mais
- Caminhar mais
- Procurar mais
E comecei a busca!
Formações.
Encontro, semanal, com companheiros que começaram a sentir as mesmas necessidades.
Saber mais para perceber!
Tornei-me uma insatisfeita.
Comecei a perceber que não estou sozinha e, para caminhar, preciso dos outros e de outros.
Comecei a dar os “primeiros passos” no sentido da vida.
Neste constante vai-vém comecei por perceber que ele queria mais de mim.
Queria e quer.
E eu vou-me deixando guiar, não esquecendo aquilo que fui e o que quero ser.
A memória da minha fé é importante, mas mais importante é o que eu quero ser.
Isto de saber mais implica empenho e coragem, implica compromisso.
Tenho que me tornar um arauto do meu Senhor!
E o caminhar deixa de ser, a cada dia que passa, menos oscilante, tornando-se preciso e comprometido.
Ontem, na eucaristia, dizia-se, pela boca de Lucas, nos Actos dos Apóstolos, “arrependei-vos e convertei-vos, para que os vossos pecados sejam perdoados”. E é por aqui que temos que começar. Pelo reconhecimento das nossas fragilidades para caminhar com mais e maior confiança de olhos postos em Yeshu.
É então que chegam as necessidades: saber mais para não desprestigiar a minha memória que percorreu toda a minha existência e me tornou naquilo que sou hoje, naquilo que quero ser e fazer.
A história do povo de Deus não é uma história voltada para a frente, mas uma história que é e que foi.
O que ficou lá atrás é tão importante como o que está a acontecer hoje.
O hoje é consequência da história que já percorreu vários milhares de anos e que teve o seu ponto máximo no sacrifício, pela verdade, de Jesus.
Hoje somos seus herdeiros e, como tal, temos que continuar a sua história, enfrentando, sem temor, as adversidades que nos queiram infligir para o negarmos.
E são tantas as negações!
Basta-nos olhar no espelho.
Sabes, Rufus, a tua “memória agradecida da tua Fé” veio lembrar-me que também eu tenho memória e que, tal como tu, estou bem agradecida pela minha Fé e por ser o que sou e como sou.
Sem comentários:
Enviar um comentário