24/08/2009

Leitura(leituras


Durante estes dias de silêncio e silêncios deixei-me abraçar pela leitura, com leituras fastidiosas e leituras fáceis.

E mergulhei no tempo, andando ora para trás ora para a frente, mas sempre por séculos anteriores ao nosso, de alguma glória e muita, mas muita injustiça, resultado dos tempos teoricamente passados, mas onde os homens nunca se souberam adaptar aos ventos da mudança que ciclicamente se tentaram instalar, nem abanar os governantes para toda esta trama de sofrimento e dor, onde se ouve cada vez mais forte o estertor da morte. Tempo em que se procura o reconhecimento e a glória que está no fim de um salto milagroso e que teimou não chegar. E assim se derrotam meses intermináveis de corridas, de saltos, de esforço, de empenho. Enfim, deixamo-nos abraçar por um tempo onde pululam as agressões, tanto verbais como físicas, os medos por falta de interesses ou horizontes, a depressão colectiva e a vontade de vencer sem luta nem esforço. Vive-se o tempo em que nada se acaba e tudo termina sob uma derrocada brutal que não se compadece de quem está sentado, na esperança de alguma sombra que atenue o sofrimento da inclemência solar que dói e magoa, a seu tempo.

E volto à leitura.

Tempo de férias, de lazer e de retemperar algumas forças.

Deixei-me envolver e encantar por tempos que entroncam na história.

História e histórias que agarram e vão evoluindo no seu constante devir.

E entrei no mundo muçulmano, onde a história também se faz com mulheres. Mulheres que culturalmente têm que se cobrir, para não provocar. Mulheres vítimas de perseguição por não estarem no sítio certo à hora certa. Mulheres que paulatinamente vão entrando no mundo do trabalho e se vão afirmando pela sua competência e dedicação. Mulheres que preferem não casar para não estarem submetidas a uma vida cujo papel é apenas o de cuidar da casa ou mandar nos serviçais, de agradar ao marido todo poderoso, pois é dono e senhor, de parir e educar as crianças. Histórias de início de século que vem sofrendo as consequências de regimes intransigentes e ditatoriais, regidos por um fundamentalismo repugnante e atroz. Mulheres que lutam pela sua independência e libertação do jugo de um poder desumano e imoral, recuando a princípios medievais e passados.

Passei ao século XIX.

Li a história biográfica de barão de Quintela. Amante da arte, ele próprio músico e musicólogo, que através do mecenato proporcionou grandes espectáculos tanto públicos como privados. Homem que, nascido no início do século, atravessou toda a instabilidade da primeira metade do século, com lutas liberais, guerra civil e ascensão de D. Maria da Glória ao poder. Rico, deixou-se envolver em quezílias que o conduziram quase à ruína.

Cheguei aos séculos VIII e IX. Mergulhei no reinado de Carlos Magno. Tempo onde se tentou recuperar alguma da tradição cultural que tinha sido quase abandonada no período das grandes invasões bárbaras. E assisti a lutas encarniçadas pelo poder, sobretudo o poder religioso. Uma Igreja seguidora de um certo Jesus que fazia tudo menos dar testemunho. Uma Igreja de poder, com o poder, para o poder. Uma Igreja cujos chefes compravam os cargos para os usarem a seu bel-prazer. Uma Igreja que transmitia medo e terror, prometendo, apenas, o inferno. E assim se vivia. Só assim era possível manter o jugo bem encaixado no pescoço dos prevaricadores. Lutava-se por um pergaminho que comprometia e conduzia à mudança do centro dos poderes. Bem sei que é um thriller, mas bastante fiel ao tempo estudado. A morte é-nos apresentada de forma fria e calculista, apenas pela posse de um certo documento comprometedor. E a trama continua com a morte sempre presente no horizonte. Mais uma vez a grande heroína é uma mulher. Sofre, ama, luta e é fiel àqueles que nela confiam. E liberta. E dá a mão. E é amiga.

Gostei!

Mas o mergulho continuou!

Também me deixei envolver pelas tradições celtas e a luta impiedosa das religiões para se irem afirmando em pleno século VI. A luta entre o bem e o mal. E eu penso: De que lado está o bem? E o mal? É que o bem de uns é o mal de outros e vice-versa.

Agora estou em pleno Império Romano. “As memórias de Adriano”. Já por várias vezes me falaram da beleza deste livro e da escrita soberba e fácil de Margueritte Yourcenar. Foi-me oferecido por uma colega que frequentou comigo a acção de formação. E vale a pena!

Mas…, o primeiro que eu li foi mesmo aquele que é passado bem próximo da cidade de Ur, na Suméria, “A Bíblia de Barro” de Júlia Navarro.

Não posso perder o jeito e continuo a deixar-me passear pelos tempos da História que nos deixaram a marca indelével daqueles que forjaram a sociedade que é nossa e nos envolve também na injustiça que tem percorrido os tempos do Homem.

É importante salientar que apenas o livro que estou a ler não tem como protagonistas as mulheres.

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