Hoje quero falar da palmeira.
Era uma palmeira alta e frondosa que abrigava nos seus ramos dezenas de aves da espécie dos passeriformes.
Pequenos, alegres e brincalhões.
Quer ao amanhecer, quer ao anoitecer, era uma festa.
A festa do acordar para a labuta de um novo dia a esvoaçar de um lado para o outro em busca do alimento tão necessário para a existência.
A festa do entardecer em que, barulhentas, “falavam” das peripécias acontecidas ao longo do dia.
Em suma, uma vida simples e bem-disposta de quem teima sempre em encontrar um objectivo de vida e para a vida.
Há uma semana tudo acabou.
Acabou o bulício, a piadeira e a festa do amanhecer e do anoitecer.
O vizinho da casa da frente, no pleno direito de arranjar o jardim ao seu jeito, mandou derrubar a palmeira.
Ela resistiu, já com saudades dos passarinhos e dos passantes da rua no seu vai-vém de todos os dias.
Zangou-se, cheia de dores por ter sido serrada, e partiu um poste que permanecia de pé, sem vida, apenas a sustentar os cabos, de mau agoiro que transmitem desgraças, das telecomunicações.
Deu luta.
Foram precisos dois dias para a abater por completo.
Agora ficou um vazio no lugar dela pois, por mais que se replante o espaço, já nada é como antes.
Não costumo “chorar sobre o leite derramado”, mas choro pela palmeira que começou a deixar o seu dono intranquilo, porque:
Podia, com as suas raízes, invadir o saneamento;
Podia criar tensões com a vizinhança com o barulho e a sujidade dos pássaros;
Podia incomodar…
Desculpas.
O lado bucólico desapareceu, aproximando-nos cada vez mais da grande cidade, com todos os seus contratempos e sem qualquer hipótese de renovar o ar, já de si tão poluído pelo constante passar de veículos motorizados pela rua ou pelo restolhar dos motores do camiões do Luís Simões que coabitam paredes meias coma urbanização.
Deixaram de se ver e ouvir os passarinhos e os melros que no seu esvoaçar e pipilar constantes alegravam todos os fins de tarde e todos os amanheceres da minha rua.
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