30/12/2009

A perda de uma palmeira


Hoje quero falar da palmeira.

Era uma palmeira alta e frondosa que abrigava nos seus ramos dezenas de aves da espécie dos passeriformes.

Pequenos, alegres e brincalhões.

Quer ao amanhecer, quer ao anoitecer, era uma festa.

A festa do acordar para a labuta de um novo dia a esvoaçar de um lado para o outro em busca do alimento tão necessário para a existência.

A festa do entardecer em que, barulhentas, “falavam” das peripécias acontecidas ao longo do dia.

Em suma, uma vida simples e bem-disposta de quem teima sempre em encontrar um objectivo de vida e para a vida.

Há uma semana tudo acabou.

Acabou o bulício, a piadeira e a festa do amanhecer e do anoitecer.

O vizinho da casa da frente, no pleno direito de arranjar o jardim ao seu jeito, mandou derrubar a palmeira.

Ela resistiu, já com saudades dos passarinhos e dos passantes da rua no seu vai-vém de todos os dias.

Zangou-se, cheia de dores por ter sido serrada, e partiu um poste que permanecia de pé, sem vida, apenas a sustentar os cabos, de mau agoiro que transmitem desgraças, das telecomunicações.

Deu luta.

Foram precisos dois dias para a abater por completo.

Agora ficou um vazio no lugar dela pois, por mais que se replante o espaço, já nada é como antes.

Não costumo “chorar sobre o leite derramado”, mas choro pela palmeira que começou a deixar o seu dono intranquilo, porque:

Podia, com as suas raízes, invadir o saneamento;

Podia criar tensões com a vizinhança com o barulho e a sujidade dos pássaros;

Podia incomodar…

Desculpas.

O lado bucólico desapareceu, aproximando-nos cada vez mais da grande cidade, com todos os seus contratempos e sem qualquer hipótese de renovar o ar, já de si tão poluído pelo constante passar de veículos motorizados pela rua ou pelo restolhar dos motores do camiões do Luís Simões que coabitam paredes meias coma urbanização.

Deixaram de se ver e ouvir os passarinhos e os melros que no seu esvoaçar e pipilar constantes alegravam todos os fins de tarde e todos os amanheceres da minha rua.

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