26/08/2006

Cidade II

Hoje abri as portas e as janelas da minha cidade.
Deixei-a abrir-se à orgia do sol e do calor para que ficasse mais aconchegada.
Encheu-se dos chilreios das aves do céu que quiseram vir alegrar-me e alegrá-la.
É vê-los no seu constante vai-vem a esvoaçar e a debicar aqui e ali.
Chegou agora mesmo um melro todo vestido de preto com a alegria do sol estampada no seu biquito amarelo.
Que pretendia ele dizer?
Talvez para afastar a noite que se implantou no íntimo do meu coração, pois o pássaro mais escuro transporta sempre consigo o amarelo que irradia alegria, luz e calor.
É verdade!
Deixei que o coração se vestisse de noite e fechei-o. Fechei-o de forma a não sentir, nem ouvir as palavras que chegavam do exterior.
A minha cidade é o meu refúgio!
Nem as Tuas palavras feitas amor e carinho conseguiram penetrar esta barreira de paredes, portas e janelas bem grossas.

Fui a Tua casa visitar-Te.
Nada.
Sempre o silêncio e a amargura da solidão!
Senti-me vazia e zangada. Zangada comigo mesma, pois não consigo ver os sinais que estás sempre a emitir.
Não escuto!
Este silêncio é feito de temor e angústia.
Medo do vazio e angústia pelo sofrimento, sem solução, que me rodeia.
Mas hoje quero abrir-Te a minha cidade!
Saltar das ameias e partir para o exterior de mim mesma sem o peso das grilhetas e confiar. Apenas confiar!
Preciso de sair e voltar a ver-Te no sorriso e na alegria de voltar a viver.
Deves estar triste comigo!
Reage e vai! - dizes-me Tu.
Vai ao Meu encontro que estou lá para confortar os corações mais tristes e aflitos.
Vai a Minha casa.
Estou sempre pronto a ouvir-te e a enviar-te os meus sinais de luz.
Então abri a minha cidade ao outro e aos outros em busca da serenidade perdida.
Parti ao Teu encontro.
E hoje, ao contrário de ontem, quando estiver perante o sacrário que irradia luz e amor vou escutar-Te com atenção e beber as Tuas palavras para que a noite dê lugar ao dia e eu seja capaz de, mais uma vez, trazer-Te de volta a esta cidade que se quer viva e acolhedora a todos os que nela quiserem entrar.

Fica na minha cidade e ateia nela o fogo do Amor!

2 comentários:

Anónimo disse...

Andante, amiga. Estás tão deprimida! Então para onde foi essa força?
Olha para o sol, deixa que ele te vista de dia e contempla, sim, a natureza, essa obra prima onde podemos ver a mão de Deus em tudo o que é coisa. E que coisas lindas!Eu sei que fechaste o teu coração para não te magoares. É uma forma de defesa. Mas, com o coração fechado como queres receber os sinais que Deus te envia? A angústia pelo sofrimento dos outros é legítima mas assim não te ajudas a ti nem a eles...
Vamos com calma nesta caminhada, Deus não nos pede impossíveis...
Olha, amiga, eu destruí a minha cidade, agora não tenho vilas nem aldeias. Aqui para nós, acho que Deus me seduziu e eu estava mortinha para dizer que sim e aceitei-O para sempre na minha vida. Que felicidade! E os meus problemas parece que encolheram.
Dá-me a tua mão e tem uma noite descansada.
Filó

Andante disse...

Obrigada Filó

Bjs