24/08/2006

Cidade!

Vagueio perdida pelas ruas labirínticas da minha cidade!
Cidade que apenas existe dentro de mim e que se recusa a mostrar-se a quem vier espreitar pela porta de vidro do meu coração.
Construi muros altos, fortes e com ameias e vigio. Vigio os intrusos que nela querem entrar sem aviso prévio ou sem bater.
É nesta cidade que me refugio sempre que me vejo confrontada com os maiores inimigos: intolerância, injustiça, egoísmo e muita maldade.
As setas estão-me apontadas. Enfrento-as sem recuar, mas o sofrimento da ausência permanece: nada em troca de amor, carinho e atenção. Entrega unilateral, sem retorno.
Os olhares que culpam, as palavras que magoam, o dissimular que afecta profundamente.
Foi isto que puseste no meu caminho, de modo a que a peregrinação que empreendi seja sempre mais dura e mais sofrida hoje que no dia de ontem. Esqueço as aves que pipilam, saltitam e seguem no seu alegre voejar pela estrada da vida.
As árvores verdes e luminosasa foram abatidas. Ouviram-se gritar e gemer de dor, angústia e medo. Termiram na pira de um qualquer fogão de sala para que o seu sacrifício/sofrimento fosse até ao fim.

Na minha cidade ainda há algumas árvores, frondosas e verdes, cheias de esperança que me querem transmitir. Acolhem as aves que aí pretendem viver e cantam para mim trinados gloriosos e cheios do amor que não encontro cá fora.
A minha cidade é labiríntica, mas é minha!
Em busca da paz perdida trouxe para a minha cidade um sacrário.
Esse sacrário, feito luz, irradia para o exterior a alegria do acolhimento e da paixão.
É de joelhos e com os olhos marejados pelas lágrimas, que não páram de cair, que eu percebo que tudo isto é para me experimentares e sentires que continuo a abandonar-me no Teu colo suave e doce onde não deixas de me acariciar.
Junto do sacrário chorei, falei e entreguei-Te a minha dor. É uma dor que se afunda na alma e que muitas vezes explode de raiva.
Perdoa!
Mas sai do Teu sacrário feito luz e dá-me a mão para que não mais precise de vaguear por esta cidade labiríntica.
Vem.
Não te esqueças que esta peregrinação é feita pela via mais dolorosa e que por vezes apetece baixar os braços e desistir.

5 comentários:

Anónimo disse...

É verdade Andante, a cidade sempre me sufocou ,mas cada vez mais nos tempos que correm, é um autêntico inferno.Sou uma defensora acérrima da natureza,ela é a nossa MÃE, e por ela devemos lutar para que as gerações futuras não venham a sofrer as consequências atrozes da destruição.
Felizmente ainda vou encontrando uns "Paraísos" para refrescar a alma e o espírito.Mas ainda não está fora de questão um dia viver como eremita...:):)

Anónimo disse...

Baixar os braços sim...rsrs
Mas desistir NUNCA!!!!!!!
"Tudo posso N'Aquele que nos fortalece"...

Andante disse...

Eu penso que muitos de nós fazemos diariamente a experiência do eremitério no meio de multidões.
Mas penso também que é no meio dessas multidões que devamos deixar irradiar a paixão que nos envolve.
A cidade é vida, é solidão mas é também alegria e amor.

um irmão. disse...

eu amo a cidade, mas sufoca sim...

Anónimo disse...

Se o fermento fugir do meio da massa....se o sal já não salgar os alimentos...se os cristãos voltarem as costas à cidade,aos desabrigados da sorte....então acontecerá o que nos conta a tradição...o apóstolo Pedro não podendo mais viver na cueldade e dissolução da urbe romana ia a fugir da cidade e encontra Cristo e ao perguntar-lhe Quo vadis,Domine,Jesus responde vou tomar o teu lugar,Pedro...o cristão será sempre um novo Cristo
Peregrina