05/09/2006

Caminho

Ontem estavamos seis. Hoje só metade é que se fez ao caminho.
Ontem andamos pela orla costeira, com o mar a brincar lá em baixo, entre Salgueiros e Canidelo.
Hoje fizemos o percurso habitual, mas ao contrário.

De manhã, bem cedo, ainda o Sol estava envergonhado e teimava em não abrir, iniciamos o caminho pelo lado dos campos de milho e seguindo pela ribeira do Espírito Santo.

Claro que estou a falar de Gaia e dos seus trilhos que acompanham a costa desde a Afurada até Espinho.
Se não conheces, vem conhecê-los.
Podes disfrutar de casario, campo, mar, muito mar, areia de todas as cores, rochas e outros caminhantes. De tempos a tempos lá passa o comboio, no seu constante vai-vem para "despejar" milhares de pessoas que se dirigem para o trabalho tanto no centro de Gaia como no Porto.

Voltando ao caminho, hoje fizemos o percurso ao contrário (para economizar tempo, eheheh...).
Estava a levantar-se uma ligeira neblina para nos refrescar.
Como vou mais devagar e atrasada em relação aos outros (a idade começa a pesar e eu sou pesada...) entro pelo silêncio e faço a minha oração.
Hoje quisera chamar-me São Francisco e comunicar com os animais, as plantas e até a brisa e a água da ribeira que corre alegre e ligeira para o prazer de se abraçar ao irmão mar.
Mas não, não sou Francisco, nem Francisca, por isso a minha oração fez-se louvor e admiração.

O ribeiro, no seu deslizar para o encontro amoroso, umas vezes corre sereno e outras mais barulhento, num alegre cantar de alegria e paixão.
Não vi peixes, mas como é um ribeiro feliz, autoriza que saiam de dentro das suas águas plantas verdes e de aspecto gostoso (só aspecto, pois, apesar de levar as águas límpidas e cristalinas, atravessa campos de milho, batata e outros legumes, devendo estar contaminado de pesticidas e demais produtos que estragam e empestam tudo aquilo que ele dá).
Ladeado por uma vegetação frondosa, típica das zonas húmidas, que acolhe no seu interior as aves que aí constroem os seus ninhos de amor e enchem o ar com os seus alegres cantos e chilreios.
É vê-los a voar de um lado para o outro e a depenicar aqui, ali e acolá.
A natureza no seu pleno!
Hoje, além dos pardais e dos melros que transportam o sol na ponta do bico, pude observar um casal de pegas rabudas, num voo rápido e a mostrar o esplendor da sua roupagem preta e branca. São tão lindas e elegantes! Mas vi pombas e, já na praia, as minhas amigas gaivotas.
Tenho que falar sempre das gaivotas.
Lindas, alegres e simpáticas.
Admiro-as pela forma forma como dançam e volteiam no ar, pela leveza e liberdade que colocam no seu voo e por se aproximarem do Infinito.

Ainda estão em grupo, pousadas perto da linha de água, mas lentamente começam a espreguiçar-se, levantando e agitando as asas de modo a afastar o torpor da noite para, passada a preguiça, levantarem e partirem à procura de alimento. Dirigem-se , normalmente, para as licheiras, onde o alimenta abunda e não dá trabalho a procurar... No mar sempre têm que observar com atenção o movimento dos cardumes e mergulhar rapidamente para ter sucesso.

No caminho junto ao mar deixamos de ter o verde bucólico dos campos e do ribeiro, mas temos uma paisagem serena e aberta. O mar continua no seu constante ir e voltar sobre a areia dourada e permite que alguns pescadores lancem a linha e esperem pacientemente pelo "picar" de um qualquer peixe distraído que não se apercebeu do perigo.
Lá mais longe, mas sempre pela linha da costa, vêm-se barquitos que andam na faina na esperança de juntar mais alguns cobres para o sustento da família já que os tempos vão difíceis.

É então no meio destas paisagens, tão bonitas e tão diferentes, que eu abro o coração e deixo que Entres. Ajudas-me a perceber alguns porquês e permites que me lance em voos de infinito em direcção a Ti, colocando-Te e entregando-Te todos aqueles e aquelas que estão no meu coração e todos aqueles e aquelas que vivem à míngua de uma oração e não sabem como fazê-la, pois a revolta e a angústia não permitem que conversem conTigo como amigo e não como o castigador que tudo vê, tudo sabe.
Deste-me a liberdade e eu pego nela, rebelo-me muitas vezes, e coloco-a ao Teu serviço e digo-Te na minha oração:
Serve-Te de mim para transmitir a Tua alegria e a Tua paz.

Amen

5 comentários:

joaquim disse...

Que fazes Tu Senhor com tantas ou tão poucas orações.

Eu sei, Senhor, vai-las colocando na vida dos que não Te encontram, porque não querem, ou porque ainda não entendem.

Sei bem Senhor que foram muitas destas orações de quem eu não conhecia, ainda não conheço e se calhar nunca conhecerei, que Tu Te serviste para tocar o meu coração de pedra, e me dares a graça de conhecer e viver o Teu amor.

Por isso Senhor recebe estas orações desta Tua filha que passeia conTigo na praia, recebe também as minhas e as de todos, e toca, Senhor, toca os corações dos homens e das mulheres, para que abram os seus corações ao Teu amor e descubram a maravilha da Tua graça.

E obrigado Senhor, louvado sejas por todos os que rezaram e ainda rezam por mim, mesmo que não o saibam.

Que nunca nos cansemos de rezar por eles e por todos os teus filhos e filhas.

Obrigado senhor pela oração, pelo louvor.

Abraço em Cristo
Joaquim

Anónimo disse...

Não havia peixes mas havia girinos.:)É muito bom contemplar a irmã natureza logo pela manhã.De manhã é que começa o dia (como dizem os antigos), e para nós começa bem cedo lol.Acordar sem stress, sem chatices e dar-LHE os bons dias de coração tranquilo e em paz(a minha oração é feita antes do nosso ponto de encontro) reconforta a alma.

Andante disse...

Eu já sabia que não rezo sozinha.

Também tu Joaquim me tens ensinado a rezar e é também por ti que eu rezo.

O conhecimento não é físico, é de outro tipo, talvez com uma profundidade e um saber que não fosse conseguido de outra maneira.

A propósito de conhecimento:
porque não encontrarmo-nos, todos, aqueles que partilham orações, poemas e vivências, um dia junto ao altar da Mãe, onde estiveste há uns dias?
E aí darmo-nos as mãos e fazer dos nossos diálogos uma oração em conjunto?
Vai amadurecendo a ideia e, juntos, vamos mexer com Andarilhos, Peregrinos, Andantes, todos os que buscam a Verdade no rosto e no coração dos irmãos.

Já está!
Vamos pensar todos juntos?

E tu, minha linda menina, percebeste bem aquilo que eu escrevo e aquilo que eu sinto.
Além do bem-estar e da liberdade para reflectir, acolher e partilhar há ainda o contacto com o outro e o contacto com a mãe natureza.
Viste girinos?
Eu sou pitosga, ehehehe.
Beijinhos

Para os dois

Paz em Cristo

Anónimo disse...

Eu andei o mesmo caminho mas ao fim da tarde.
E sozinha também eu contemplei. Não o nascer, mas o pôr desse sol, dessa maravilha da natureza! :)

Qual é a hora de início da caminhada?
(já sou leitora assídua do andante)

Andante disse...

O encontro é por volta das sete, mais coisa, menos coisa e hoje o sol não conseguiu impor-se ao cerrado do nevoeiro...
Bjs