12/09/2006

Partilha

Hoje quero partilhar algo que me comoveu até às lágrimas.
Volta, meia volta falo das minhas princesas.
Quem são?
Pois, as minhas princesas são as minhas alunas mais sofridas e que, tão novinhas, (andam nos quinze anos) tão bem dançam o Tango do Aleluia.
A Soraia, como já disse há algum tempo, deixou de poder usar as mãos. Apenas o polegar ainda tem mobilidade.
Anda muito triste pois, diz ela:
- Todas as pessoas compram lápis, canetas e cadernos, só eu é que não.
Agora só com o computador é que ela escreve. Lápis e cadernos só lhe servem para enfeitar a secretária...

Mandou-me através do correio electrónico este poema.

Minha Amiga

Você, que é minha amiga,
Você, que sempre me socorre quando preciso,
Você, que fala de assuntos interessantes...
Às vezes, coisas banais,
que para mim são tão importantes!
Você, que às vezes tão longe,
sinto tão perto em meu coração...

Você, minha amiga,
cujos olhos não vejo,
cuja alma não sinto,
está sempre próxima,
bem mais perto do que a própria tela,
está mais próxima do que imagina...

Você, minha amiga,
que invadiu minha vida,
me fez gostar-te muito,
que não veio apenas através de um cabo telefónico,
mas veio do vento,
vento que nos leva para o encontro
das nossas alegrias...
Para a proximidade dos nossos sonhos.

Você me é especial,
e tudo o que se refere a você
me é tão importante:
as suas alegrias,
as suas mágoas,
as suas histórias,
as suas aventuras...
Quero te ver sempre próxima de mim!

Você, minha amiga,
que é muito mais que um encontro virtual,
é a realidade dos meus dias!
Por você eu navego,
por você eu crio,
por você eu tenho suportado
tantas coisas, com tanta força...

A você, minha amiga,
gostaria de fazer alguns pedidos:
Que você sempre permaneça em minha vida,
em meu coração.
Que seja minha eterna amiga;
além da tela,
além do tempo,
aqui dentro do meu coração...

de: Vilma Galvão


Pode parecer uma pieguice, mas este é um poema de gratdão e de mais um pedido de socorro.
No ano anterior, sempre que ela me pedia, dava-lhe colo, ouvindo-a, animando-a, etc., pois não é fácil ter quinze anos e gritar a plenos pulmões: Eu sou deficiente!
É duro ouvir isto de uma adolescente que ainda no início do ano escrevia, embora com alguma dificuldade. Fez o nono ano, vai para o décimo. Tremo por ela, pois neste momento não tem estrutura mental para aguentar o desafio que se aproxima.
Hoje, quando me viu na escola, deu-me o abraço mais apertado dos últimos tempos. Foi tão bom...

Não a esqueço na oração e sinto uma grande angústia pela mãe, que, tendo um baixo nível de instrução, teve coragem de abandonar o emprego para se dedicar a esta filha a tempo inteiro. (Podia ser exemplo para muitos senhores doutores que apenas vão à escola para desancar nos professores)

E a peregrinação da Soraia ainda está no início...




11 comentários:

Andante disse...

Isto hoje ficou com mau aspecto!
Não sei como é que pus isto desta maneira.

Desculpem

Beijos peregrinos

Rui Santiago cssr disse...

Estás perdoada!!!

Obrigado por teres Coração.
Gostava de dizer-te que essa gente bonita a quem chamas "princezinhas", as que estão na minha vida e na minha história eu chamo-lhes "gaivotinhas".
São as minhas gaivotinhas, que ainda têm que aprender a controlar todas as penas do seu corpo para poderem voar em condições...
Como a Soraia... Se eu conhecesse a Soraia chamava-lhe Gaivotinha, e ia dizer-lhe o lema das minhas gaivotinhas: "Só vale a pena viver se viver for voar!"

Diz-lhe que lhe mando um beijinho.
Obrigado por teres Coração.
SHALOM

Anónimo disse...

Que ternura Andante, e tu sempre dedicada. Cá estou teimando em deixar-te um *

Andante disse...

Vou dizer-lhe Rui.
Elas, as princesas, que vão dando e pedindo colo, pois só assim sentem a alegria de viver.
Eu sou uma professora feliz pois tenho perdido alunos e ganho estas loucuras que são o amor do Pai que se vai manifestando através do sopro do seu Espírito do Amor.

Gostava de te dizer ainda que sinto um grande fascínio pelas gaivotas e, se pudesse gostaria de ter a liberdade delas para poder voar e rodopiar bem alto e chegar bem perto do Pai.

Olá querida Malu.
Gostei de te ver por cá.
Continuo a visitar a tua Capela e, quando quiser comentar, já sei...


Beijos peregrinos para os dois.

Anónimo disse...

Palavras para quê,quando os corações reflectem o toque divino.Que o Pai vos abençõe sempre às duas.

joaquim disse...

Obrigada por este momento de amor "desprendido".

Quando vejo ou ouço falar de crianças deficientes, lembro-me sempre de um livro de, salvo o erro, Morris West, chamado "Os Palhaços de Deus".

A ternura que envolve este nome, que poderia parecer até ofensivo, só se explica pela graça da simplicidade do amor destas crianças e pela imensa ternura e carinho que despertam em nós.

Sabem receber amor e sabem dar amor.

Abraço em Cristo
Joaquim

A Flor disse...

ADOREI este teu "cantinho" vim até aqui, pela Zeca. Vou voltar mais vezes!....

Crianças como estas, são as que mais nos ensinam em relação ao Amor!

Que Deus te use, como vaso de benção, para que os teus alunos sintam o amor de Deus.... atravês de ti!
Deus te abençõe
um abraço em Cristo

Anónimo disse...

Como posso eu dizer que no meu coração habita uma tristeza profunda, uma revolta com a vida?É nestes testemunhos de vida, de força e fé que me apoio para continuar a minha peregrinação.

Beijinhos Andante

Andante disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Andante disse...

Olá Eremita!
Às duas não, às duas,três,..., pois faltam muitas histórias para contar, o Miguel, a Diana, o Luís,...
A benção é todinha para elas e eles, que bem precisam de um sopro quente e alegre ao coração para poderem enfrentar a vida com mais energia.


Então Joaquim!
Tudo bem?
Também gostei de te ver passar por cá.
Registei o livro do Morris West que não conheço, conheço outros, até já li o último que foi publicado postumamente, vou comprá-lo da próxima vez que for à FNAC.
Como dizes sabem receber e dar amor, sobretudo quando a vida lhes é adversa e aprendem a conhecer as pessoas.
Nestes casos, disse-me a Cláudia um dia, após a operação no IPO:
"Precisei de três anos para conhecer a professora de História... Gosto mais desta que da dos outros anos, pois parecia distante".
Só nessa altura começaram a perceber que os alunos não são meros números mas indivíduos que vêm ocupar espaço no nosso coração...

Olá Flor
Já te tinha lido a partir, também, da casa da Mc. Visito-a frequentemente e penso que também ela está a aprender a dançar o Tango do Aleluia, isto é, o sofrimento e a angústia da Cruz.

Eu gosto muito, talvez até demais, dos meus alunos, embora eles pensem o contrário, pois tal como a mãe estou presente para lhes dar colo e para os repreender. Têm que saber respeitar a liberdade do outro: colegas, professores e funcionários. Todos trabalhamos para construir um mundo mais justo.


Olá Raquel

Eu sei que o teu coração está triste, mas não desesperes. Luta devagarinho e sem deixar transparecer muita emoção.
Tu vais conseguir, és uma menina forte!...

Casos como os dos meus alunos são aos milhares. O coração de alguns professores, repara que digo apenas alguns, sofre com eles e vai à luta por eles.
Entendes porque é que me vês nos finais de ano azeda, cansada e por vezes desesperada?
A maior parte dos professores sai o portão da escola e esquece a escola.
Se eu pudesse fazer o mesmo...
Quando eu tinha mais ou menos catorze anos andava triste, nervosa e quezilenta.
A conversar com um adulto responsável, até pela minha formação, disse-lhe o que me ia na alma.
Resposta:
Os teus problemas ao pé dos meus não são nada!
Resposta pronta, até porque já era refilona nessa altura:
Os meus são insignificantes, mas são meus. Cada pessoa sente os problemas à sua maneira e eles são importantes seja lá a idade que tiver...


Beijos peregrinos para todos e obrigada pelas vossas palavras.

joaquim disse...

Cara Andante

Atenção que o livro já é muito antigo, talvez 20 anos, não sei.

Abraço em Cristo
Joaquim