06/10/2006

Mãe Má


MÃE MÁ

O texto, a seguir transcrito, foi publicado recentemente por ocasião da morte estúpida de Tarcila Gusmão e Maria Eduarda Dourado, ambas de 16 anos, no Brasil. Depois de estarem 13 dias desaparecidas, as mães revelaram desconhecer quem eram os proprietários da casa onde as filhas tinham ido passar o fim-de-semana. A tragédia abalou a opinião pública e o crime continua sem resposta.

MÃES MÁS

(Dr. Carlos Hecktheuer, Médico Psiquiatra)

“Um dia, quando os meus filhos forem suficientemente crescidos para entenderem a lógica que motiva os pais e mães, eu hei-de dizer-lhes:

- Amei-vos o suficiente por vos ter perguntado aonde íeis, com quem íeis e a que horas regressaríeis.

- Amei-vos o suficiente por não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.

- Amei-vos o suficiente por vos fazer pagar os chiclets que tirastes do supermercado ou as revistas que trouxestes do quiosque, e obrigar-vos a dizer ao dono: “Nós levamos isto ontem e queríamos pagar”.

- Amei-vos o suficiente para ter ficado de pé, junto de vós, duas horas, enquanto limpáveis o vosso quarto e eu o teria feito em, apenas, 15 minutos.

- Amei-vos o suficiente para vos deixar ver, além do amor que sentia por vós, o desapontamento e as lágrimas nos meus olhos.

- Amei-vos o suficiente para vos deixar assumir a responsabilidade das vossas acções, mesmo quando as consequências eram tão duras que me partiam o coração.

- Mais do que tudo, eu amei-vos o suficiente para vos dizer NÃO, mesmo quando eu sabia que poderíeis odiar-me por isso (e nalguns momentos odiastes mesmo).

Essas eram as batalhas mais difíceis de todas.

Estou contente, venci...

E, porque no fim, vós vencestes também! Mais tarde, quando os meus netos forem suficientemente crescidos para entender a lógica que motiva os pais e as mães; quando eles vos perguntarem se a vossa mãe era má, os meus filhos vão dizer-lhes:

“Sim, a minha mãe era má. Era a pior mãe do mundo... Enquanto as outras crianças comiam doces com o café, nós só comíamos cereais, ovos, torradas. As outras crianças bebiam sumos, comiam batatas fritas e gelados ao almoço e nós tínhamos que comer sopa, arroz, feijão, carne, legumes e frutas.

A minha mãe tinha que saber quem eram nossos amigos e o que fazíamos com eles.

Insistia que lhe disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora, ou menos. Ela insistia connosco para que lhe disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade.

E quando éramos adolescentes, ela conseguia até ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo chata!

Ela não deixava os nossos amigos buzinarem para que saíssemos; tinham que subir e entrar, para ela os conhecer.

Enquanto os outros podiam voltar tarde, tarde das noitadas com apenas12/13 anos, nós tivemos que esperar pelos 16 para chegar um pouco mais tarde, e aquela chata levantava-se para saber se a festa tinha sido boa e se tinha corrido bem (só para ver como estávamos no regresso).

Por causa de nossa mãe, perdemos imensas experiências na adolescência.

- Nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubos, em actos de vandalismo, em assaltos a propriedades, nem fomos presos por nenhum crime.

FOI TUDO POR CAUSA DELA!”

Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o melhor de nós próprios para sermos “PAIS MAUS”, como a minha mãe foi.

EU ACHO QUE ESTE É UM DOS MALES DO MUNDO DE HOJE: NÃO HÁ SUFICIENTES MÃES MÁS!

Àquelas que já são mães, não se culpem, e àquelas que virão a ser, que isto sirva de alerta!

Lanço daqui o desafio a um certo Andarilho para lhe dar forma e potenciá-lo para as reuniões de pais, sejam elas quais forem: catequese, jovens, escola, ... (gargalhadas...)
Já sabes, Andarilho, mostraste os teus dotes e talentos e esta peregrina-andante abusa (risos).

15 comentários:

zezezinho disse...

Então eu tive uma mãe má, só me restac agradecer, por ela ter sido como foi.
Obrigado por este texto
Abraços

Anónimo disse...

vamos a ver como sairá esta sopa da ´Mãe Má..!!! andarilho detesta legumes..plojk...pluk..com tempo farei sim... sê paciente..e grato eternamente pela partilha adorei...

Anónimo disse...

Ai que isto não é para rir mas .. (LOL) O texto é forte Andorante e muito oportuno, obrigada (também lhe imprimiste alguma força.. ehehe ) e muito a sério: Já tem dono, sim. é que de verdade os pais hoje têm alguma (?) dificuldade em dizer não, não é? Às vezes um diz e o outro desdiz. Pior ainda. Raro o dia em que não assisto a uma cena, ou na rua ou no café, supermercado, e é uma luta constante com as crianças a bater o pé por quererem... tudo! Os pais, ou por vergonha da cena, ou de paciência perdida, cedem e dão, simplesmente.

Hmmm.. cheira-me a sopa... :p

Deixo-te um abraço com uns temperos e obrigadas sem fim,

Malu

Andante disse...

Estou de acordo contigo Zezezinho.
Eu também tive uma mãe má e orgulho-me disso.
Também tenho muito orgulho na minha mãe pois, apesar dos seus oitenta anos, continua uma mulher despachada e sem medo das novas tecnologias. Aprendeu, poucos dias depois de fazer anos, os caminhos da net para, e são palavras dela, "poder navegar e estar ligada aos netos e filhos, ainda mais facilmente".

Então Andarilho, detestas legumes mas a sopa faz muito bem... (risos).
Paciência é comigo! Aprendi à custa de muito treino e esforço...

Ai, ai, ai Malu! Não deixes entrar o "bispo" na sopa...
A grande dificuldade dos pais é sobretudo não terem coragem de dizer não. Pobrezitos, acreditam em todas as formas de chantagem dos filhos.
Dizer não é um talento. Não dizer não é cobardia.
Atravessamos uma grave crise de valores.
Penso que deveria existir uma "escola" para ensinar os pais a ensinarem os filhos.
Sabes, uma inconfidência, o meu filho já me apontou algumas vezes o dedo para me dizer que não esquece algumas das coisas que lhe proibi ou alguns castigos que lhe dei. Não estou arrependida, pois é um doce de filho e nunca, mas nunca foi mal-educado e é responsável. Sempre que o questiono sobre assuntos delicados, como droga, promiscuidade, etc., apenas me diz:
"Já vi, já assisti, mas com coisas sérias não brinco."
Não é para ter orgulho?
Sou uma mãe babada...

Para vós todos deixo-vos um grande beijo peregrino, cheio de orgulho, bem lá no fundo do coração que me tem ajudado a crescer e a compreender muitas coisas.

joaquim disse...

Andante
Não tive uma mãe má, tive uma mãe péssima, graças a Deus.
Uma mãe que para além me ter dito que não a tantas coisas "boas" da vida, me ensinou tantas coisas "chatas" da vida e que hoje fazem do meu viver uma vida muito mais rica.
Uma mãe que nunca se cansou de rezar por mim e pelos meus 8 irmãos e que quando partiu em Fevereiro deste ano com 96 anos, levava no coração a certeza de que o seu Joaquim, (e os outros também), que tantos anos andou perdido tinha encontrado o Jesus que ela lhe tinha revelado desde os seus mais tenros anos.
Ai, andante, que pena não ser hereditário!!!
Ai, que dificuldade em dizer não!!!
Ai, que sofrimento às vezes, pai muito cinquentão de filhos com idade de netos, de mostrar que para além do mundo e daquilo que ele oferece, e que parece tão bom, há muito mais para sempre.
Ai que dificuldade em ensinar que mais importante que ser "esperto", é ser honesto, que mais importante que a paixão momentânea é o amor para sempre, que mais importante que ser igual aos outros é ser exactamente aquilo a que cada um é chamado, que mais importante que dizer mal é fazer o bem, que mais importante que andar nas bocas do mundo é ser "boca" de Deus.
Daqui a muitos anos, ainda os filhos, como nós então, hão-de dizer: "Lembro-me bem que já os meus pais me diziam e avisavam..."
Obrigado andante.
Que o Senhor abençoe filhos e pais na comunhão do Seu amor.
Abraço em Cristo
Joaquim

Andante disse...

O acto de educar, Joaquim, é simultaneamente doloroso e difícil.
Só quem está nelas é que lhes sabe dar o valor.
Descobrir o meio termo. Perceber quando eles nos eão a experimentar. Saber lidar com as birras.
Enfim, um nunca mais acabar de situações que só um pai ou uma mãe responsáveis saberão resolver e actuar na devida altura.

Beijos peregrinos.

Estou de saída com o meu marido para o hospital. Está com uma gastero-enterite e 39º de temperatura

joaquim disse...

Espero que o marido já esteja melhor.
Abraço em Cristo
Joaquim

Lai disse...

Olá andante,

Gostei muito do texto...
Tb tive uma mãe assim tão mázinha...e tb sou uma mãe assim...espero continuar a ser...
Que Deus nos dê sabedoria e graça para educar os nossos filhos!

DTA
Lai

Andante disse...

E pensar que quando somos apelidadas de "Má" estamos afazer o melhor de nós próprias para os ajudar a crescer com dignidade e respeito...

Beijos peregrinos

Anónimo disse...

Passo muitas vezes em silêncio, adoro as vossas conversas, mas hoje discordo um pouco sobre o texto da mãe má. Tenho três filhos maravilhosos de 33, 29 e 24 anos, que me respeitam e me querem pela vida. Na sua educação não constou qualquer tipo de violência. Apenas determinação no cumprimento das regras que considerei importantes, muito amor, alguma brandura, muita compreensão e tolerância q.b.
Dos 15 aos dezoito anos permiti-lhes que fi zessem as asneiras que considero normais para a idade para que não as viessem a fazer mais tarde com outras agravantes. Em troca, só pedia que me contassem os disparates que fizessem, pois que, como amiga ,sempre os poderia ajudar. E foi isso que aconteceu. Mostrando-lhes sempre muita confiança. E isso faz de mim uma mãe muito feliz e orgulhosa. Porque eu continuo a acreditar piamente que os jovens fazem mais ou menos as mesmas coisas. O problema é que há pais que preferem saber, e outros que julgam que os filhos não fazem e só se enganam a eles próprios. Fiquem bem
Filó

Andante disse...

Bem reaparecida Filó de Deus

Concordo e simultaneamente discordo daquilo que disseste.
É assim:
1- Ser má não significa maltratar, mas ter o discernimento para dizer não com veemência e explicar porque não;
2- Ser má no sentido de exigir responsabilidade e educação;
3- É também permitir-lhes a "inconsciência" própria da idade.

Neste sentido também eu sou má.
O meu filho respeita e é respeitado.
Tem 25 anos.
Ainda esta semana fui abordada por uma senhora que faz limpeza no local de trabalho dele que me deu "os parabéns" pelo filho maravilhoso que tenho.
Fiquei sem jeito...
Sabe bem ouvir de um filho.
No entanto ando atormentada e preocupada porque nos últimos anos tem vindo a arrastar a formação académica.
É o único senão, mas um senão que me tem tirado o sono e arreliado muito.
Já não sei o que hei-de fazer.
Todos os dias falo no mesmo e, desconfio, que tenho que voltar a ser má.

Beijos peregrinos.

Anónimo disse...

Sabes, andante amiga, passados alguns anos da tal "idade dos disparates" o meu filho mais novo disse-me:
- Mãe, tu sempre tiveste tanta confiança em mim, que eu nunca seria capaz de te trair.
Agora penso eu:
E Deus, que tanto confia em mim, será que lhe sou assim fiel?
Beijo grande.Fica bem
Filó

Andante disse...

Grande pergunta Filó!

Hoje não pude deixar de cometer um pecado...
Fui sarcástica!
Pedi ajuda.
Ninguém respondeu ao meu apelo.
Quando nos sentamos à mesa agradeci o apoio que me deram.
É fácil chegar, sentar e saborear a refeição...
Esquecem-se que quem a preparou também teria gostado de se ter sentado a ler o jornal ou a fazer outra actividade qualquer.

Preparo as coisas com todo o empenho e carinho, mas também sabe bem receber alguma atenção.

Beijos peregrinos

Anónimo disse...

Ó p'ra mim! Preparo as refeições com todo o esmero, tal como tu, e, numa casa de 5 pessoas , não consigo juntar duas à mesa. Dezavenças entre irmãos... marido que não dá o exemplo...
Sofri muito, chorei muito. Agora resolvi pôr o coração ao largo e pensar em mim, se quero curar esta depressão em que me encontro.
A minha eucaristia diária me dão o alento e energia que necessito.
Beijo grande
Filó

Andante disse...

Coragem irmã Filó!

Como te percebo tão bem!
Até nisso somos irmãs.
Mas o que me deixa irritada é que sou eu sempre a culpada...

Beijos peregrinos cheios de amor por uma alma gémea.