21/08/2007

Leitura/leituras

Ando a ler um romance histórico:
A Catedral do Mar de Ildefonso Falcones.
É passado na Idade Média, século XIV.
Está bem escrito, relata factos da época mas... perturba-me.
Também li de Richard Zimler, O último cabalista de Lisboa, que me causou os mesmos sentimentos.
A leitura é feita de forma compulsiva, para aproveitar os tempos de lazer e de paragem escolar.

Pois bem! Este livro fala da Catalunha do século XIV e, o autor, relata-nos a história acidentada da personagem principal, que se vê envolvida nas tramas da época.
- É o direito senhorial que não olha a meios para atingir os fins;
- É uma sociedade que rejeita todos aqueles que se inseram noutro estrato social;
- É a violência e o terror que se espalha a partir de uma classe dita superior, só porque adquioriu ou comprou um título;
- É a guerra que destrói e arrasa de forma gratuita o alimento das populações mais carenciadas (quando não mata, destrói para que a marca fique para sempre);
- É a perseguição e o ódio, de quem afirma acreditar e aceitar um Deus de bondade infinita, a judeus e árabes, pois acreditando nesse Deus de bondade infinita, ousam chamar-Lhe por outros nomes;
- É uma Igreja por vezes compreensiva mas muito pouco tolerante, visto que colabora com as instituições, promovendo as diferenças que se sentem também dentro dela.

Este é um livro que causa repulsa e revolta por causa da impotência daqueles que nada têm nem nada podem. São apenas chamados para pagar impostos, se não em dinheiro, em dias de trabalho gratuito. Nasceram para servir sem levantar os olhos, pois isso seria uma ofensa e um ultraje para o seu senhor...

A que propósito vem toda esta arenga?

Vem a propósito de comparar sociedades.
Na Idade Média estamos perante uma sociedade fechada e injusta.
No século XXI vivemos numa sociedade que não aceita regras e onde se fala numa falsa liberdade, visto que não respeita a liberdade dos outros.
Na Idade Média vivia-se uma religiosidade de medo e sem compreensão. Apenas existia o temor e o castigo.
No século XXI vivemos numa sociedade sem Deus, onde vale tudo, não olhando a meios para atingir os fins.

Claro que prefiro os tempos do século XXI.
À medida que vou lendo as descrições medievais sinto medo, raiva e uma grande inquietação.
Conheço um Deus de Amor que quis partilhar connosco o Seu Filho. Nem este Deus, nem este Filho nos disseram que devíamos cultivar o ódio, as paixões exacerbadas e o medo.
Eles disseram-nos que a vida tem que ser vivida e experimentada em toda a sua extensão, pois nascemos para sermos felizes. A felicidade constrói-se e ganha-se à medida que nos vamos dando aos outros e vamos saindo de nós próprios.
Perseguições, mortes violentas, ajustes de contas, enfim, um nunca mais acabar de atitudes e sentimentos que percorrem as sociedades ao longo dos tempos e que não foram queridos pelo Deus de bondade infinita.

Estas leituras permitem-me passar da teoria à prática e perceber as injustiças que vão percorrendo as sociedades ao longo de todos os tempos.
Há descrições bastante fiáveis de como se processavam as perseguições, os julgamentos sumários e as condenações.
E inquietam-me, pois vejo a mesma intolerância e a mesma falta de respeito na actualidade, não sendo necessário virar os olhos para os campos de guerra.

Vivemos tempos de mais saber, de mais cultura e de mais informação, mas não vivemos tempos de mais tolerância e amor ao próximo.

Então digo:
Pai Santo
Ajuda-nos a lamber as feridas desta sociedade enlouquecida de forma a que ela se volte novamente para Ti, não pelo medo do castigo, nem pela intransigência, mas apenas pela bondade do Teu rosto e de Te saber confiante e compreensivo.


3 comentários:

Anónimo disse...

O melhor dos piores é deixar seguir o curso da história.
Haja pão e circo,que o povo fica feliz.
Alturas houve em que me revoltava com as injustiças sociais.
Agora andar para a frente.Pobrete mas sempre alegrete ,é o mote que Jesus me dita ao coração coração...:)
Bjs

Seminarista... disse...

Sabe o que me alegra em toda a história humana? É que o nosso Deus é maior que todos nós em Amor!
E ainda, os homens do nosso mundo não são todos maus, existem muitos corações bonitos capazes de de ser rosto e mediação de Deus.
É esta certeza que me dá força para caminhar.
É esta a minha alegria.

Anónimo disse...

venham mais arengas destas que vêm sempre a propósito.

Bjs para ti Andorante!