01/08/2008

Tempos de recuperação

Nestes tempos de recuperação os dias escorrem lentos, mas bem preenchidos.

Tenho tempo, muito tempo.

A lufa-lufa do final do ano lectivo deu lugar ao repouso e ao doce retemperar de forças. Já me sentia exaurida, sem forças e sem coragem para continuar a lutar. Além das aulas, dos testes e das reuniões, veio a sobrecarga das formações. Uma delas irá terminar, apenas, nos primeiros dias de Setembro. Estou a preparar-me para iniciar um ano ainda mais preenchido e trabalhoso pois irá acontecer a tão famosa avaliação de docentes que, além de perversa, é castradora para quem vai avaliar pares.

Todas as pessoas são avaliadas, é certo.

Mas avaliadas por quem?

Por directores, por chefes, por quem está, hierarquicamente, acima.

Avaliar pares?

E eu que nunca quis orientar estágios para não ter que avaliar e cortar a direito!

Isto da avaliação deixa-me assustada, ainda mais depois de ter ido fazer as formações. São três, de carácter intensivo e muito intensas.


Estou metida em dois barcos:

- Comissão de Coordenação de Avaliação de Desempenho. Nome pomposo para um grupo de quatro pessoas que tem por missão analisar e confirmar as classificações de Muito Bom ou de Insuficiente e verificar todos os recursos interpostos pelos descontentes As escolas vão transformar-se em verdadeiros campos de batalha da agressão, do insulto e da falta de carácter. Com dizia uma colega, que pretende ser vista como uma senhora:

Calço as chinelas e depois ireis ver do que sou capaz!


- Como coordenadora de departamento sou responsável pela avaliação de 26 colegas. É claro que deleguei competências de avaliação noutros colegas. Não me é possível fazer tudo sozinha. Contudo, apesar de ter delegado, continuo responsável por tudo o que for feito e decidido dentro do departamento.

E a reforma ainda está longe…

Podia ter seguido os “conselhos” ministeriais, antecipando-a.

São muito espertos e há quem vá no engodo.

Com 33 anos de serviço e 58 anos de idade já é possível. Mas… a penalização ascende quase aos 350€.

Espertos!

Não pagam os salários mais altos e metem ao bolso todo aquele dinheiro, ad eternum.

Tenho projectos para os tempos da reforma. Ficar sentada à espera da morte, não fico.

Vou voltar aos bancos da universidade e fazer o curso de teologia.

Chegou a hora de saber mais, para Amar ainda mais.


Mas, voltando ao início deste texto, aproveito estes dias remansosos colocando a leitura em dia. Já li quase quatro livros que desesperavam, na estante, para serem abertos e deixarem escapar aquilo que os seus autores quiseram comunicar.

Claro que é uma leitura a que podemos chamar de “recreativa”.

Livros do foro histórico, mas em forma de romance, sobre as tradições celtas e vikings, das lutas pela posse das terras, das suas tradições tanto culturais como religiosas e dos avanços da “nova religião” e dos padres que chegavam para falar de um certo Jesus, não admitindo o recurso à bruxaria, tão características dessas gentes e que ainda hoje fazem parte da cultura de muitas pessoas, nem a sua prática pagã.


Comecei, entretanto, a ler sobre a embaixada de D. Manuel I ao Papa.

Tempos de promiscuidade, de malvadez, de luxúria e de pogroms contra os judeus da Península Ibérica.


A corte papal vivia os dias escuros da corrupção, da venda de bulas, que apagavam os mais graves delitos, e da falta de escrúpulos de um clero que apenas pretendia viver segundo os desejos carnais, distraindo-se da missão que tinham jurado solenemente cumprir, prestando atenção aos desvalidos, ajudando-os e ensinando-os a viver num mundo mais justo e atento.


Tempo de Renascimento das artes, dos saberes, da intelectualidade e do…pecado.

Tempo de descoberta dos valores e saberes clássicos e, em lugar de os colocar ao serviço de todos, usavam-nos segundo os seus próprios princípios e leis, porque, princípios, não havia e leis, eram apenas feitas para os outros.

Paragem, leitura e tempo livre permitiram-se pensar. É que eu penso e quero pensar.

Penso em como é bom viver, mas viver com sentido.

Bem perto, no horizonte, é que o horizonte está perto ou longe conforme o ponto de vista de cada um, vislumbro o sentido do meu caminho que pretendo seguir sem amarras nem empecilhos.


Então, de cabeça erguida, avanço com o horizonte em frente, em busca do saber, da alegria e da paixão de viver a vida com sentido.


1 comentário:

Sol da manhã disse...

"Então, de cabeça erguida, avanço com o horizonte em frente, em busca do saber, da alegria e da paixão de viver a vida com sentido."

Que GRANDE sorriso me arrancou!
Que GRANDE sorriso!

Obrigado, Andante. Muito Obrigado.

SHALOM