10/08/2008

A travessia só é possível com Jesus...

“Tu eras aquela
que eu mais queria pra me dar algum conforto e companhia
era só contigo que eu sonhava andar pra todo o lado e até quem sabe talvez casar
ai o que eu passei só por te amar a saliva que eu gastei para te mudar
mas esse teu mundo era mais forte do que eu e nem com a força da música ele se moveu.

Mesmo sabendo que não gostavas
empenhei o meu anel de rubi
para te levar ao concerto que havia do Rivoli

e era só a ti que eu mais queria
ao meu lado no concerto nesse dia
juntos no escuro de mão dada a ouvir
aquela música maluca sempre a subir
mas tu não ficaste nem meia hora
não fizeste um esforço pra gostar e foste embora
contigo aprendi uma grande lição
não se ama alguém que não ouve a mesma canção

mesmo sabendo que não gostavas
empenhei o meu anel de rubi
para te levar ao concerto que havia do Rivoli

foi nesse dia que percebi
nada mais por nós havia a fazer
a minha paixão por ti era um lume
que não tinha mais lenha por onde arder

mesmo sabendo que não gostavas
empenhei o meu anel de rubi
para te levar ao concerto que havia do Rivoli”


Resolvi transcrever a canção do Rui Veloso porque há qualquer coisa que me chamou a atenção para o Evangelho de hoje.
1- É preciso ouvir e sentir a mesma canção para amar de verdade!
Não, não se tem, nem deve, puxar apenas para um lado. Nestas coisas do amor um não deve anular o outro, mas caminhar num determinado sentido, de mãos dadas no profundo respeito da identidade do outro. A grande lição presente na canção é mesmo essa, o respeito pois, quando há imposições as coisas começam a descambar.
2- O segundo destaque é a imagem do lume e daquilo que o alimenta.

O texto é interessante, mas enferma de algo que é demasiado importante: a falta de respeito.
Porquê, então, a falta de respeito?
Impor ao outro os mesmos gostos, as mesmas vontades, enfim, as mesmas coisas.
Qual então o paralelismo com o Evangelho de Mateus?
A falta de confiança.
Como sempre surge-nos Simão Pedro a descambar para os extremos.
Jesus afastou-se de tudo e de todos, primeiro da multidão à qual tinha saciado a fome, depois dos discípulos a quem mandou pescar.
Tinha chegado o momento: queria estar só para orar. Ia em busca do silêncio e da proximidade com o Pai.
Que bom um encontro a dois!
E que enamoramento!
Aqui caminha-se no mesmo sentido e sentem-se um ao outro sem atrapalhações nem confusões.
E é tão bom este estar só!
Eu e Tu, sem reservas nem temores.
Eu e Tu, cara a cara sem ter por onde fugir!
Claro que não quero fugir, estou bem a contemplar amorosamente este Rosto luminoso, sorridente e carregadinho de cumplicidade!
Estava vento, muito vento. As ondas metiam medo e o barquito, qual casca de noz, balançava, balançava.
Que medo!
Sem mais, aproximaste-te e viste os teus apavorados. E caminhaste, mesmo sobre o mar.
Veio acima a confiança no Teu, nosso ABBA.
Que espanto! Nunca antes alguém tinha caminhado sobre as águas.
E Pedro também quis fazer a experiência.
Faltou-lhe a fé e a confiança e, afundou…
Pedro duvidou.
Quantos de nós continuamos a duvidar?
Então vem Santo Agostinho que nos diz: “A travessia só é possível com Jesus…”

Mais uma vez vou falar da comunidade.
É aqui que, conduzidos por um amigo que transpira amor e respeito por todos os poros, nós ensaiamos os passos desta valsa que nos leva pelos caminhos mais acertados para fazermos a travessia.
E fazemos.
E amamos.
E construímos.

Voltando novamente à letra de Carlos Tê, para o Rui Veloso, o paralelismo vem então.
Enquanto ele deixa que a fogueira se apague, por falta de alimento, na Comunidade esta nunca se apaga pois cada um de nós a quer alimentar e torná-la maior e mais forte, sempre bafejada pelo sopro da brisa, algumas vezes violenta, do RUAH.

1 comentário:

Anónimo disse...

Texto a merecer um comentário. Não já, porque tenho de o ler e reler. Tenho de reflectir. Mas volto com a reflexão, porque o texto merece. Obrigado Andante. Volto muito em breve. JMAS