Corridas

Quando pensava que iam chegar as tréguas e o merecido repouso do final do período, tudo se complicou.

(Estou a tentar escrever este post desde quarta-feira)

Os dias na escola estavam a correr sereninhos e pachorrentos.

Olha-se à volta e vêem-se os professores atarefados de modo a ultimar as correcções dos testes, a preencher as pautas de avaliação, a preparar as reuniões de final de período. (Embora pareça, não é uma contradição. Trabalha-se, mas com contenção)

Trabalho mais ingrato têm os directores de turma que inserem as faltas dos alunos nos programas informáticos, justificam as dos últimos dias, enviam cartas aos encarregados de educação de modo a fazer o ponto da situação e a mantê-los informados. Parecem formigas que, no seu constante vai-vém, vão armazenando para os dias distantes de frio e de inverno.

Tudo se ultima para estar pronto a tempo e horas da reunião onde se “discutem” valores e atitudes dos discentes, onde se “cantam” as notas para possíveis emendas, já que estas são da responsabilidade do conselho de turma e não apenas do docente da disciplina.

É preciso respeitar as directivas emanadas pela tutela e que apontam para o facilitismo.

Vida ingrata a de professor que avalia quem nada faz nem quer ser avaliado!

Estou a generalizar, mas ao posso banalizar.

Ainda há alunos que trabalham e que são responsáveis.

É mais fácil destacar pela negativa, pois são os que fazem mais doer…

Hoje quero falar dos outros, os que não são “notícia” pela normalidade/anormalidade.

Não, não estou a contradizer-me. A anormalidade, nos dias actuais da escola, é aquilo que há uns anos, se chamava normalidade.

Quero falar dos Alunos que se esforçam, que trabalham, que têm e expressam sentimentos de gratidão.

Estes alunos conversam e estudam!

Utilizam o diálogo e questionam!

Trabalham e deixam trabalhar!

Sentem-se incomodados quando observam as faltas de educação, de responsabilidade e de carácter dos colegas.

Os olhos deixam transparecer a angústia que sentem, mas não podem falar. Podem sofrer as consequências que são arrasadoras para uma personalidade em formação.

A escola da actualidade é um universo de grupos organizados que, em equipa, atacam e canalizam todos os maus humores que não podem descarregar na bola ou noutras brincadeiras que os obrigassem a cansar.

Na minha escola as bolas foram proibidas… É isso mesmo, FORAM PROIBIDAS.

A bandeira da ministra, aulas de acompanhamento/substituição, veio retirar-lhes a possibilidade de usufruírem dos “furos”. Agradou a alguns pais, aqueles que estão inscritos na CONFAP (não me mandem desfazer o mistério da sigla pois eu recuso-me a ouvi-los, quanto mais a saber o que diz nome de tal associação que recebe subsídios do Estado que somos nós a pagar e que tem o discurso de um governo que tão mal trata os professores desta bendita terra), desagradou a muitos mais que vêem na escola um local de aprendizagem, de crescimento e de convívio. Como há alunos preocupados, também há pais e encarregados de educação.

E agora fala-se em escola aberta durante 12 horas.

Por que não 24 horas?

Assim os pais podiam fazer a sua vidinha sem se preocuparem com os filhos que são um “travão” e um estorvo à concretização dos seus planos/projectos ocos de vida.

A escola passa a funcionar como um armazém onde se “arrumam” os meninos. Até nem se sujam porque lhes foi retirada essa possibilidade!

Esta escola, desta ministra, está a criar imbecis mal-formados, carregados de direitos (o saco já não fecha de tão cheio!).

Os deveres estão, apenas, do lado de lá…

Além das turmas do 11.º ano, tenho duas turmas do 10.º ano.

Gosto destes alunos!

Também me fazem zangar, conversam muito, mas são amorosos e simpáticos.

E dão graxa!

Pensam que não percebo…

“Arrumo-os” logo!

Alguns têm dificuldades!

 

Logo no início disse que tudo se complicou.

O meu marido voltou a ser internado.

Voltaram as corridas: casa-escola, escola-casa, casa-IPO, IPO-casa… e assim sucessivamente.

Na sexta-feira fui três vezes à escola e duas ao IPO, nos intervalos.

No sábado foi operado a um abcesso.

O domingo foi bem mais calmo.

No fim-de-semana passe lá todo o tempo, mais algum, permitido.

Agora vou ter uma reunião, depois vou ao IPO e regresso para outra reunião.