
Os meus dias têm sido de solidão silenciosa.
Passos horas seguidas no hospital e, nem aí, as coisas são fáceis.
Tento ouvir-te chamar-me e os ouvidos permanecem fechados.
É um silêncio confuso e perturbado.
Continuo a fazer tudo mal!
E sinto as lágrimas silenciosas a escorrer.
Os olhos parecem fogo e as imagens começam a ficar desfocadas.
E não desisto de ouvir a tua voz no silêncio de mim mesma.
Sinto que eu não sou eu, mas uma amostra daquilo que querem que eu seja.
Dar, ouvir.
E insisto.
O coração começa a aquecer. Tu chegas de mansinho e chamas-me:
Maria, Maria, Maria.
Agora sim. Começo a sentir-te e a ouvir-te.
E abandono-me ao conforto dos teus braços que me enlaçam terna e serenamente.
Eu sei que me entendes e vês o que sinto. Os meus olhos são os teus e nem sempre o que te mostro é bonito. Sabes, também tenho direito à angústia, à revolta, à solidão. Não sentiste o mesmo na hora?
É isso, sinto-me muitas vezes desconfortável pela incidência do dedo esticado e acusatório:
- Só fazes asneira! Põe-te a andar!
E o telefone não pára de tocar! Que canseira cansativa!
Tantos telefonemas são sinal de amizade e preocupação. Estou a aproximar-me, a passos largos da exaustão e não posso dar sinais de fraquejar.
Apetece-me saltar fora, isolar-me e ficar apenas eu e tu.
E consegui!
Estou sentada na areia fria da praia. A brisa suave e doce beija-me alegremente. Começo a ouvir o cantarolar das ondas no seu constante vai-vém. O mar está calmo e, de repente, cala-se para reiniciar, alguns segundos depois, o canto alegre da despreocupação.
De cada vez que atinge o objectivo, a onda morre e ressuscita.
Morre no momento que se espalha e se desfaz.
Ressuscita porque se junta novamente para efectuar o percurso inverso.
E o mar é um constante morrer e regressar à vida!
E sinto-me mar! Água que volteia e dança, que vai e volta, sem se cansar.
E continua alegre!
O devaneio continuou até que o barco se aproximou da costa.
O barqueiro chamou-me pelo nome:
Maria.
Estranho! Sabe o meu nome.
Inicialmente senti-me confusa e não acreditei que aquilo era comigo.
Olhei à volta à procura de… mim.
Não havia engano, era mesmo comigo. Foi a mim que ele chamou.
Aproximei-me a medo.
Estendeu-me a mão e subi e a pequena embarcação zarpou.
Mas… tenho medo de andar de barco. Não sei nadar. E as ondas?
O barquito baloiçava e continuava a afastar-se.
“Faz-te ao largo”, dizes-me ao ouvido. Abre as mãos e confia.
Vá lá, aguenta!
E aguentei.
E confiei.
Ergui a cabeça e senti a brisa transformar-se no canto alegre do vento que me lambia a cara e sussurrava docemente ao ouvido:
- Confia, Maria, tu és forte. Não te deixes vencer pelo desânimo. Segura-te e agarra-me porque nunca te abandono. Porque te fechas à dança da RUAH? E tu que gostas de sentir o vento a bater-te na cara.
A viagem continuou. O barco seguia viagem para o mais íntimo de mim mesma.
A paz chegou. O alento também. Deixei-me dormir nos braços amorosos da Ruah que me embalavam e, lentamente, o sorriso da confiança assomou aos meus lábios, qual criança embalada pela mãe…
1 comentário:
E eu estou aqui!
Força companheira!!!
Gosto muuuuuuuuito de ti!!!
Um abraço BOM!!!
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