02/04/2009

Alento!


Os meus dias têm sido de solidão silenciosa.

Passos horas seguidas no hospital e, nem aí, as coisas são fáceis.

Tento ouvir-te chamar-me e os ouvidos permanecem fechados.

É um silêncio confuso e perturbado.

Continuo a fazer tudo mal!

E sinto as lágrimas silenciosas a escorrer.

Os olhos parecem fogo e as imagens começam a ficar desfocadas.

E não desisto de ouvir a tua voz no silêncio de mim mesma.

Sinto que eu não sou eu, mas uma amostra daquilo que querem que eu seja.

Dar, ouvir.

E insisto.

O coração começa a aquecer. Tu chegas de mansinho e chamas-me:

Maria, Maria, Maria.

Agora sim. Começo a sentir-te e a ouvir-te.

E abandono-me ao conforto dos teus braços que me enlaçam terna e serenamente.

Eu sei que me entendes e vês o que sinto. Os meus olhos são os teus e nem sempre o que te mostro é bonito. Sabes, também tenho direito à angústia, à revolta, à solidão. Não sentiste o mesmo na hora?

É isso, sinto-me muitas vezes desconfortável pela incidência do dedo esticado e acusatório:

- Só fazes asneira! Põe-te a andar!

E o telefone não pára de tocar! Que canseira cansativa!

Tantos telefonemas são sinal de amizade e preocupação. Estou a aproximar-me, a passos largos da exaustão e não posso dar sinais de fraquejar.

Apetece-me saltar fora, isolar-me e ficar apenas eu e tu.

E consegui!

Estou sentada na areia fria da praia. A brisa suave e doce beija-me alegremente. Começo a ouvir o cantarolar das ondas no seu constante vai-vém. O mar está calmo e, de repente, cala-se para reiniciar, alguns segundos depois, o canto alegre da despreocupação.

De cada vez que atinge o objectivo, a onda morre e ressuscita.

Morre no momento que se espalha e se desfaz.

Ressuscita porque se junta novamente para efectuar o percurso inverso.

E o mar é um constante morrer e regressar à vida!

E sinto-me mar! Água que volteia e dança, que vai e volta, sem se cansar.

E continua alegre!

O devaneio continuou até que o barco se aproximou da costa.

O barqueiro chamou-me pelo nome:

Maria.

Estranho! Sabe o meu nome.

Inicialmente senti-me confusa e não acreditei que aquilo era comigo.

Olhei à volta à procura de… mim.

Não havia engano, era mesmo comigo. Foi a mim que ele chamou.

Aproximei-me a medo.

Estendeu-me a mão e subi e a pequena embarcação zarpou.

Mas… tenho medo de andar de barco. Não sei nadar. E as ondas?

O barquito baloiçava e continuava a afastar-se.

“Faz-te ao largo”, dizes-me ao ouvido. Abre as mãos e confia.

Vá lá, aguenta!

E aguentei.

E confiei.

Ergui a cabeça e senti a brisa transformar-se no canto alegre do vento que me lambia a cara e sussurrava docemente ao ouvido:

- Confia, Maria, tu és forte. Não te deixes vencer pelo desânimo. Segura-te e agarra-me porque nunca te abandono. Porque te fechas à dança da RUAH? E tu que gostas de sentir o vento a bater-te na cara.

 A viagem continuou. O barco seguia viagem para o mais íntimo de mim mesma.

A paz chegou. O alento também. Deixei-me dormir nos braços amorosos da Ruah que me embalavam e, lentamente, o sorriso da confiança assomou aos meus lábios, qual criança embalada pela mãe…


1 comentário:

mila disse...

E eu estou aqui!
Força companheira!!!
Gosto muuuuuuuuito de ti!!!
Um abraço BOM!!!