
Mal tinha despertado e já estavas a chamar-me.
Hoje só querias dizer-me o quanto gostas de mim.
E começaste cedo!
Aproveitaste este tempo de acalmia e de “preguiça” para te manifestares.
Inicialmente não acreditei, mas insististe.
E fizeste-te presente!
O tema do diálogo é TU!
Desvio a conversa, não quero falar de mim, quero passar despercebida por entre os pingos da chuva.
Não, não chove.
O sol brilha, radiante e radioso a anunciar os últimos dias de um inverno cinzento, frio e chuvoso.
Ouvem-se os pássaros lá fora, no seu alegre pipilar e na pressa de recompor o ninho. É o tempo do amor e dos amores que se aproxima rapidamente.
Os gatos ainda não pararam de marcar o território nem de defender a sua dama. É o mostrar-se de forma audível, aos possíveis concorrentes para os fazer vergar e suspender a “caça” em terrenos proibidos.
E tu insistes!
Deixo-me dormir!
E tu insistes!
Quebro... e ouço.
Primeiro é um pequeno sussurro na voz do vento, também ele preguiçoso para não estragar o dia àqueles que já se vestem de primavera.
Decido ouvir o que tens para me dizer.
- Tu!
- Tu que quiseste conhecer-me, saborear-me experimentar-me.
- Tu que te deixaste envolver e viver ao meu jeito.
- Tu que és única.
- Deixa-me envolver-te mais e conhecer-te melhor.
É isso que eu quero, mas… não tenho tempo!
- Deixa-te disso! O tempo conquista-se, aproveita-se e vive-se.
- Tu tens tempo e és única.
- Já notaste que te chamo pelo teu nome?
- Lembra-te o que o teu amigo te disse e ao que te convidou. Deixa-te apanhar como Maria Madalena. Deixa chamar-te pelo teu nome que é o nome da minha mãe, da tua mãe, das tuas irmãs e da mãe dele: Myriam.
- Não tem outro sabor e outro sentido?
E chamas-me de Mulher. Palavra que deixa de estar carregada pelos maus humores e maus tempos de séculos. Capta o verdadeiro sentido desta palavra.
Sabes, também eu quero servir-te e seguir-te, mas tenho que ser salva.
Salva dos demónios que me atormentam e enchem de raivas e temores. Por eles deixo de sentir-te e pensar-te para me concentrar nesses tormentos que enfraquecem e fazem com que deixe de ouvir.
E tudo enegrece e a noite mais escura não me deixa ver com clareza os teus olhos, o teu rosto.
Começo a perceber:
Myriam
Mulher
Única
Vieste para me mostrar que os demónios são fantasias que me cobrem de escamas e me tornam impermeável aos teus apelos.
Já começo a entender, como Maria Madalena, e só o soube quando me chamaste pelo meu nome.
Nome cuja inicial está inscrita na minha própria mão.
Sabe tão bem ouvir-te sussurrar ao meu ouvido:
- Myriam, minha querida, valoriza-te e deixa-te valorizar. Deixa de ser uma e volta a ser única. Gosto de ti assim: divertida e combativa. Faz da tua vida o combate da verdade e pela verdade. Liberta-te de amarras e caminha por ti que eu vou contigo.
- Vá. Faz-te à estrada e olha em frente. Eu fico de mão estendida. Coragem!
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