05/04/2009

Domingo de Ramos



Entramos na “Semana Maior”. Não sei por que se chama assim. A explicação que me foi dada em miúda não me satisfaz.
Esta é a semana de todas as decisões e de todos os acontecimentos.
Por todo o mundo se faz memória do dia de há 2 000 anos.
O terceiro dia é sempre, é todos os dias. O dia em que suscitaste radioso para a vida.
E mostraste-te, em primeiro lugar, a uma mulher.
Sinto orgulho por ser mulher!
Maria, chamada Madalena, possuída por 7 demónios e curada.
Maria discípula e companheira.
Maria amada.
Mas… eu sei que, como homem, tinhas as tuas preferências… eu sinto-me preferia!
Também me chamas de Maria e de Mulher.
Não me canso de ouvir-te. Sobretudo nos momentos de maior abandono e de solidão.
Hoje, na procissão orientada pelos jovens e pelos adolescentes da catequese, alguém me disse:
- Desanimar não. Há dias, mas temos que re-ganhar as forças para enfrentar a adver-sidade com outros olhos.
É fácil dizer, viver é bem mais difícil.
Não, não são os olhos do desalento. São os olhos que não deixam de rir, mesmo nos momentos de maior tensão. Os olhos que vibram e brilham, não perdendo a confiança.
Eu não segui na procissão. Os pés ainda não estão preparados. Esperei no local com-binado para a intervenção dos adolescentes do 10.º ano. Esta paragem foi antecipada pelos escuteiros. Até desse momento, dedicado a Maria Madalena, fui privada…
Então, tenho presente essa figura feminina que não entendeu, mas acreditou.
Abdicou de uma vida fácil para seguir o seu Senhor.
Maria não entendeu, mas confiou.
E foi a primeira a sentir as vibrações do Re-suscitado.
Até ganhou “asas” nos pés, de tanto que correu para anunciar a Boa Nova aos outros.
Maria, mulher do anúncio.
Começou a entender. E entendeu que o seu Senhor que tinha sido destruído pelo ódio, pela inveja e pelo medo, é verdade, foi morto pelo medo que, os que não o entendiam, tinham que lhes roubasse a posição, voltara a viver e para junto dos seus que se tinham refugiado, amedrontados que também lhes chegasse a condenação. Pobrezitos, não entendiam mesmo nada. Ainda não tinham percebido que eles não incomodavam nada nem ninguém! Qual avestruz, enterraram-se dentro de casa para não verem nem serem vistos. Assim não se faziam ondas… Só as mulheres tiveram coragem de sair e ver o que se estava a passar. E dizem que as mulheres, coitaditas, são o sexo fraco tendo, por isso, que ser orientadas pelos homens… ahahahahahah. Deixo-me rir às gargalhadas.
O trabalho ainda estava incompleto!
Tanta descrença, tanto fundamentalismo e falso ortodoxismo.
Maria viva e redimida.
Preferiu acompanhar com todos aqueles que o tinham seguido mas que ainda não entendiam.
Há verdades que apenas se vêm com os olhos do coração, isto é, pelo amor.
Maria amou e o sentimento de perda estourava-lhe o coração de angústia, incerteza e raiva.
Mataram-no por causa da verdade, de justiça, da coerência.
Pudera! Foi logo nascer numa sociedade carregada de medos e temores, de grande injustiça social, em que aqueles que se consideravam “os eleitos” eram, à sombra de uma lei injusta e imutável, arrogantes, donos da verdade e do saber. Pobres vaidosos que viviam com os olhos colados pelas escamas impuras e putrefactas de si mesmos.
Não sei orar melhor que aquele pobre publicano que está lá ao fundo ajoelhado? A minha oração sobe melhor e mais depressa porque sou importante. Mal sabia ele que te preocupavas com os pecadores e os humildes. Por esses, valia a pena lutar.
E hoje?
Quantos publicanos, inchados e de peito feito, enchem as nossas igrejas. E são donos da sua sabedoria. Gostam de ver e ser vistos. Santos, piedoso e caridosos. E não te conhecem, ou melhor, conhecem as verdades que lhes foram transmitidas na cate-quese e nunca mais foram alimentadas.
Eu prefiro comungar com Maria Madalena.
Penso que era mulher séria, responsável, grata, sensata e disponível.
E duvido como ela duvidou.
E não entendo como ela não entendeu.
Enfim, quero ser mulher e assumir as minhas falhas sem medo.

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