21/11/2009

Abba... Abbinu


Abba… Abbinu…

É isto que me apetece dizer.

Os desvarios societários ajudam cada vez menos à existência de mentes despertas, serenas e abertas à serenidade e à alegria.

Há muros que se rompem e caem derrotados na imensidão da sua pequenez. Muros que, como barreiras, limitam o horizonte, tornando-se, eles próprios, horizonte.

No mês de todas as quedas, há muros que se querem levantar e coarctar o próprio pensamento e, tal com José Régio, apetece-me dizer:

Não vou por aí!

Os meus caminhos abrem-se a uma nova luz de verdade e esperança e encaminham-me, a passos largos, para onde eu quero ir.

Disse bem.

Para onde eu quero ir!

Embora lentamente, já consegui libertar-me de muitas amarras que fui cortando e já consigo olhar a vida ao jeito da vida. A vida construída e a construir, ora com bastante serenidade, para com um murro na mesa, bem audível, para que se veja que estou viva e não amordaçada.

A luta é insana, mas… vão-me chegando as vitórias.

Hoje, um dos alunos mais rebeldes, daqueles que nunca reconhecem o erro, aproximou-se de mim, ainda fora da escola. Fiquei a aguardar por mais uma tentativa de coacção e mais uma acusação de intransigência.

- A professora nunca tem razão!

- A professora persegue-me!

- A professora é altiva e arrogante!

Tudo imprecações de que tenho vindo a ser alvo desde o início do ano lectivo que ainda vai curto.

Mas não. Hoje aproximou-se, sozinho, sem se sentir pressionado, de cigarro na mão, meio escondido, e disse:

- Quero pedir-lhe desculpa por todo o meu mau comportamento.

Pôssa!, pensei eu. Até que enfim consegui!

Não me deu tréguas, mas também não me deixei demover.

Quando tenho razão, não recuo.

Sabes, sou teimosa!

Também sei ceder.

Ele não se apercebeu, mas senti os olhos marejados de lágrimas.

Claro que desculpei.

Desculpo sempre.

Eu sei que ele engoliu em seco, muitas vezes, tremeu e venceu-se a si próprio.

Deu o passo, ultrapassando os seus medos e o seu próprio orgulho.

E caiu mais um muro. O muro que tapava a pequenez de uma vontade que se agigantou e se tornou ressurreição, pois transformou e varreu todas as teias de uma vida que se diz em formação.

Vamos ver até quando.

Continuo a acreditar…

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