17/11/2010

retiro 4


O Espírito de Deus faz salmistas

O silêncio que vai crescendo e se vai transformando.
Deixa de ser um turbilhão, um nunca mais acabar de ruídos insidiosos que não param de atormentar.
O silêncio que se transforma e se deixa ouvir.
Deixou de ser ruído.
Passou a ser resposta.
Enquanto isso, o salmista deixa-se invadir por angústias e temores; inseguranças e desesperos; traições e devaneios. O indivíduo que se enche de palavras e não consegue sossegar. O homem que não vê e não quer ver e o silêncio que grita e não deixa ouvir.
E o salmista sou eu!
Eu que sou perseguida por fantasmas aviltantes perdendo quase sempre o chão e o norte. Sinto-me carregada com fardos de chumbo bem cinzento que não vislumbra qualquer parcela de branco lá bem no fundo do túnel. O silêncio que dói e faz doer. O silêncio dos ouvidos fechados e o coração endurecido. O silêncio que perturba e tolhe. E, à medida que escrevo, vou sentindo que qualquer coisa começa a mudar.
Deixo-me envolver pelo silêncio e paro!
Paro no sentido literal da palavra, não é figura de estilo ou retórica.

Deixei-me envolver pelo canto alegre dos pássaros que festejam os raios de sol que de tempos a tempos conseguem furar a cortina de nuvens e aquecer os seus ninhos desprotegidos. Como se irão sentir à medida que se vão aproximando os rigores outonais?
O canto dos pássaros ajudou-me a abrir o coração e a ouvir o sussurro do vento que lentamente e, tal como os raios de sol, me vão aquecendo interiormente fazendo despontar os sentidos e colocar-me a jeito de fazer oração.
Não me canso de escutar para conseguir perceber. A oração dos sentidos e com sentido.
A oração de louvor e acção de graças por aquilo que o silêncio foi capaz de me proporcionar: a alegria de saber que esperas ainda muito mais de mim.
Mas… eu dou tão pouco e estou sempre pronta a receber!
Não é isto a minha maior limitação?
Eu querp parar para perceber, para Te perceber.
Ver para conseguir louvar.
E, com tudo isto, deixar-me envolver pelo Espírito que vai deslizando e respirando. Pelo espírito que “agarra”, “amarra” e se transforma na oração mais deslizante e singela que é o poder louvar sem limites e sem barreiras.

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