Cidade III

Andando pela cidade grande, a minha é pequenina, vi rostos preocupados e tristes.
Uns, a arrumar carros, com a esperança de uma sopa, outros, para poderem comprar a dose do dia.

Rostos de jovens envelhecidos por uma vida onde se sentem envolvidos sem saberem como e que, por opção ou por outro qualquer condicionalismo, abraçaram o lado mais difícil de se viver.
A rua é o seu caminho!
O desprezo dos outros é o seu sofrimento!
Vidas desfeitas por um pó que inebria e que mata!
Mata o sonho risonho de uma vida fácil que se tornou difícil...
Encaminham-se desesperadamente para o fim sem terem começado a viver.
Os objectivos tornaram-se difíceis de serem alcançados e a peregrinação é feita mais de quedas e recuos que avanços.
Rostos tristes que não têm como nem onde descansar a cabeça ao fim do dia.

Pensei: nesta minha caminhada, que não é fácil, não preciso de lutar por uns míseros euros para aconchegar o estômago com uma sopa saborosa e quente.
Tenho objectivos a cumprir e sigo um projecto de Amor.
Quando terei disponibilidade para ir pela rua e estender a mão a estes irmãos que, mais do que eu, personificam Jesus e vivem já a Sua Paixâo?

Tantas perguntas sem resposta!

E Tu, pregado na cruz, abraças mais e melhor estes que são considerados os proscritos da sociedade!
Não estarei eu a desempenhar o papel, na grande peça que é a vida, do fariseu?

Ajuda-me a estar mais atenta e disponível para Te acompanhar e dar a mão junto dos irmãos que são escorraçados e vilipendiados.

O caminho faz-se ao andar pois não está desenhado à tua espera!
Tu é que o escolhes e vais traçando à medida que os dias se vão esgotando.