03/09/2006

Cidade IV

Bem cedo, ainda mal despontava o dia, abri as portas e as janelas da minha cidade.
Deixei entrar a alegria dos risonhos raios de Sol que vieram brincar e rir comigo.
Vieram ainda algumas aves, das mais barulhentas, chamar-me para com elas viver a orgia do esplendor do novo dia.
Os coelhos, apressados, entravam e saíam meio assustados, das suas tocas, não viesse um caçador e os achasse desprevenidos...
Não precisei de mais nada...
Alegria, risos e sorrisos!
Vida!
Esta boa disposição permitiu que me abrisse mais ao outro, estendesse as mãos e visse neles a Tua cara de Amor.
Também Tu, quando estiveste connosco, numa passagem efémera de 33 anos, cumpriste o Teu papel:
- brincar com os que estavam mais próximos;
- conviver com os amigos e frequentar festas (bodas de Canãa);
- curar e voltar a trazer à vida (Lázaro);
- transmitir a Tua mensagem de amor (pela vivência e pelo recurso constante a parábolas de modo a facilitar a compreensão por parte de todos os corações duros);
- mostrar agressividade quando as coisas estavam menos bem (vendilhões do Templo);
- acolher as crianças que simbolizam a alegria, a simplicidade e a pureza;
- abraçar com amor e curar todos aqueles que esperavam por um olhar ou um gesto Teu.
Isto tudo para dizer o quê?
É que, ao escancarar portas e janelas, também eu me predispus a aceitar, respeitar e acolher todos os que precisam de mim com mais urgência. Tenho que sair do casulo e olhar mais para um lado e outro, sem estar só a olhar em frente, para um espelho imaginário que me devolve tudo o que me enche só de mim.
Vejo o sofrimento, o medo e a angústia estampados nos rostos fechados daqueles que não conseguem desatar a sua própria vida pois continuam a afirmar que Tu és uma invenção dos padres para acalmar velhas e beatas, esquecendo-se que a Tua Palavra também é para eles. Talvez mais para eles que para as tais velhinhas e beatas.
Se eles soubessem como é bom estar perante Ti e abrir o coração. As palavras já Tu as conheces, não é preciso desfiar fórmulas pré-definidas que se pronunciam de forma mecânica e sem algum entendimento.
Se eles recitassem frase a frase o Pai-Nosso.... e parassem para pensar o que estão a dizer?
Mas não. É mais fácil recitar de forma mecânica para não ficar incomodado.
Perdoai os nossos pecados, assim como nós perdoamos...
Como é que perdoamos?
Ou melhor, será que perdoamos?
Então, queremos receber sem dar.
Na janela da minha cidade fiz então silêncio. Não um silêncio qualquer, apenas um silêncio cheio de ruídos interiores em que me pus a falar conTigo.
Passei em revista alguns episódios menos próprios de um Teu seguidor e rezei o Pai-Nosso; algumas atitudes menos dignas e rezei o Pai Nosso.
Vou tentar não me fechar nem fugir da minha cidade. Vou abri-la de modo a acolher todos e não apenas aqueles que já lá estão ou que sempre lá estiveram.
Vou partilhar a minha cidade contigo, contigo e ainda com aquele e aquela que estão a bater à porta (devagarinho) para entrar e se acolherem no meu regaço feito amor...

2 comentários:

Rui Santiago cssr disse...

MUito Obrigado peça tua partilha.

A sensibilidade fala sempre de Deus, e a Generosidade comunica-o sempre aos outros.

Obrigado!

Andante disse...

Podes voltar.
Serás sempre recebido com muito Amor, partilhado, dado por um Pai que está sempre disponível e à escuta dos silêncios do nosso coração.