Peões

É como me eu sinto: um peão no tabuleiro que se chama Ministério da Educação...

Reúne, vigia!
Vigia, reúne!
Não, não é o trabalho de um professor que me incomoda!
O que me incomoda é mesmo a burocracia...
Papéis e mais papéis! Já nado em tantos papéis que, no fim, são para ir para o lixo.
Claro que é um lixo a médio prazo.
Quando tanto se fala em poupar papel, estraga-se papel.
E são resmas, umas atrás das outras!
Relatório disto, relatório daquilo, mais um projecto e outro projecto... bolas!
Todos sabem que gosto dos alunos, nem é preciso ser-se muito 'esperto'.

Hoje fui fazer uma vigilância do exame de Língua Portuguesa.
Estavam tensos e nervosos!
É natural, pois é a primeira experiência e o primeiro contacto que têm com estas coisas.
Pesa-lhes a responsabilidade.
O texto era lindo, carregado de subterfúgios e com uma enorme lição de vida.
Não sei se o entenderam. Também, a pressão, não permitia que a maior parte deles o entendessem.
Lá estavam as minhas avezitas.

Uma palavra aqui, um incentivo acolá, uma festita na cara... É tudo o que eles precisam, atenção e muito carinho.
Um deles, o Ricardo, não queria muito fazer o exame.
Arranjou uma gripe e foi ao Centro de Saúde pedir um atestado.
Mas, para efeitos de exame, o atestado só é válido para doenças infecto-contagiosas.
Toca o telemóvel.
Era do Centro de Saúde.
Fala a médica, a pedir desculpa por estar a telefonar, mas o Ricardo tinha-lhe dado o meu contacto.
É importante saber que o Ricardo teve uma lesão no tornozelo, por estar a fazer tropelias, e foi operado.
Quando estava internado, liguei-lhe todos os dias e, como eles sabem melhor que eu, memorizou o número.
Nada de mais pois informei-o que se houvesse algum problema me ligasse imediatamente, que eu subia montanhas para cuidar dele.
Não foi necessário...
Ontem tentou. Informei a médica e ela agiu em conformidade com a situação.

Logo pela manhã fui ter com ele.
- Dói-me a cabeça!
Pus-lhe a mão e ele tinha febre.
- Vá lá Ricardo, o remédio vai fazer efeito e tu vais ser capaz!
E foi. No final do exame estava sorridente e a fazer-me adeus.

Voltando à vigilância.
Os meus alunos, que ficaram na sala em que estava, sentiram-se protegidos, como se eu fosse uma galinha a estender as asas para melhor os aconchegar...
São tão bonitos!

Agora, é esperar pelo exame de Matemática.
Muitos vão ficar pelo caminho...
Em época normal, reprovaram onze.
Não pude fazer nada...
Dos que estão tremidos, vamos ver quantos se 'safam'. Estão mal, cerca de seis...