XVII Domingo do Tempo Comum

Destaquei das leituras de hoje o que a seguir transcrevo:

Leitura do Primeiro Livro dos Reis
Naqueles dias,
O Senhor apareceu em sonhos a Salomão durante a noite e disse-lhe:
"Pede o que quiseres".
Salomão respondeu:
"Senhor, meu Deus,
Vós fizestes reinar o vosso servo em lugar do meu pai David
e eu sou muito novo e não sei como proceder.
Este vosso servo está no meio do povo escolhido,
um povo imenso, inumerável,
que não se pode contar nem calcular.
Dai, portanto, ao vosso servo um coração inteligente,
para saber distinguir o bem do mal;
pois, quem poderia governar este vosso povo tão numeroso?"

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Nós sabemos que Deus concorre em tudo
para o bem daqueles que O amam,
dos que são chamados, segundo o seu desígnio.
Porque os que Ele de antemão conheceu,
também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho,
a fim de que Ele seja o Primogénito de muitos irmãos.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo,
disse Jesus às multidões:
"O reino dos Céus é semelhante
a um tesouro escondido num campo.
O homem que o encontrou tornou a escondê-lo
e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía
e comprou aquele campo.
O reino dos Céus é semelhante
a um negociante que procura pérolas preciosas.

…

O reino dos Céus é semelhante
a uma rede que, lançada ao mar,
apanha toda a espécie de peixes.
Logo que se enche, puxam-na para a praia
e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos
e o que não presta deitam-no fora.

E li este comentário:

O Reino dos Céus só pode ser aceite e vivido totalmente por corações que se entregam em cheio à sua causa. Deus não aceita partilhas: exige do homem uma opção total e decisiva. É o amor que marca o preço do tesouro. Sem conversão do coração ao Reino, não há coragem de pagar o preço.

E apeteceu-me escrever.

Contra o costume, não conhecia as leituras deste domingo e, como saio pouco, muito pouco, apenas para ir ao Centro de Saúde, liguei a televisão na RTP 1.

Ao ouvir os leitores e o sacerdote rejubilei e pensei: Isto hoje promete…

Ouvi Salomão a pedir ao Senhor do Universo que lhe concedesse: Sabedoria, bom-senso, discernimento e justiça para saber reinar sem prejudicar ninguém.

Quanta sabedoria nos falta para sabermos ‘ouvir’ o chamamento e para lhe responder como nos é pedido.

Quanto bom-senso precisaremos para analisar sem julgar, para discernir, e saber separar as ervas daninhas das boas para, sem falsos moralismos, agir com justiça?

Não ouvi nada disto na homilia…

Ouvi, isso sim, falar de S. Paulo. É verdade que, por proposta do Papa, este é o ano Paulino.

Mas, com leituras tão ricas e densas, gostaria de ter ouvido muito mais!

E a epístola de S. Paulo fala-nos do chamamento dos ‘eleitos’ para caminharem com o modelo do Irmão mais velho sempre presente.

Não ouvi nada disto na homilia…

E o evangelho de Mateus?

Mais uma vez Jesus nos fala do Reino e da sua construção.

Fala no tesouro que tem escondido e que apenas servirá aqueles que usem de Sabedoria, bom-senso, discernimento e justiça.

Enquanto Salomão pedia tudo isto para governar o seu reino com Sabedoria e Amor, Jesus apresenta-nos o mesmo para sermos construtores de um outro Reino, difícil, mas muito saboroso. Também aqui, usando a imagem da pesca (não eram eles pescadores?) manda separar o bom do mau, isto é, afastar aqueles falsos construtores que vão, paulatiamente, mas com grande jeitinho, dando uma imagem passadista, medieval e enfadonha de uma Igreja viva, risonha e muito, muito virada para a Glória, com a imagem sempre presente desse Yeshu de Nazaré que um dia morreu por proclamar o Amor, a Verdade e o Respeito por todos, sem olhar a raças ou estatutos sociais e que apenas lutavam por um lugar junto dele no Reino.

E não ouvi nada disto na homilia…

E o excerto do comentário que transcrevi diz tudo.

Aqui não há meio-termo. Aqui ou há ou não há.

É esta a minha opção!