03/04/2009

Hoje é o dia!

 

Nestas andanças pelo IPO conheci a Carla.

Pequena, franzina, doce e sofrida.

Estava para sair, ao fim do dia, e encontrei-a a chorar junto da janela.

Aproximei-me e falamos. Nada de especial, apenas “umas palavrinhas”.

Foi o início de qualquer coisa…

O problema dela não é do foro oncológico, mas é muito complicado.

E vem tudo ao de cima.

Falar é uma necessidade!

Começou a “visitar-nos” e a partilhar pormenores já vividos.

Nos anos da sua adolescência frequentou a escola onde lecciono.

Falou de aventuras, de amizades, enfim, da vida que não tem sido nada fácil.

O pós-operatório está a ser complicado. Tem que reaprender a controlar os esfíncteres e, a raiva maior, ter alta com o saco da urina ao lado.

Esta nova greve dos enfermeiros também não está a ajudar. Longe de mim insinuar qualquer crítica. É um direito que lhes assiste e eu própria tenho aderido a todas as greves que considero justas.

Exames por fazer, consultas adiadas, incertezas, muitas.

Neste momento precisa de reaprender a lição da confiança, que a da vontade não é possível. Essa é manifesta.

E assim se dança o “Tango do Aleluia”!

E tu dizes-me que hoje é o dia.

Claro que não é hoje, o dia tem sido sempre.

O dia começou quando fui ter com a Carla, a acariciei e dei um beijo.

Tão pouco!

Mas… “é o dia”.

O dia da atenção.

O dia da aproximação.

O dia…

O dia…

Sabes, olhei para a Carla e vi o teu rosto.

Aproximei-me da Carla e aproximei-me de ti.

Senti-a triste, indefesa e amargurada.

Olha para ela e descansa o teu olhar.

Convida-a a experimentar as tuas aventuras.

Ajuda-a a descansar no teu regaço de amor, alegria e serenidade.

Ensina-a a viver a vida com os olhos postos em ti.

Mostra-lhe o caminho para que possa entregar à paixão que nos une.

Pega-lhe na mão de modo a que reencontre a alegria, a confiança e a segurança na vida que tem que ser vivida e partilhada:

- primeiro com os familiares directos

- depois… com os outros.

 

Este post é dedicado à Carla, mas também ao meu marido que está a aprender a viver e a conviver com a dor e com o sofrimento.

 

2 comentários:

mila disse...

Obrigada por esta partilha!
Um abraço há Carla e ao teu marido, de força e esperança!...

Anónimo disse...

Um abraço amiga! Estou contigo
Maria