08/04/2009

Regresso



É hoje o dia!
Vão começar os “trabalhos”!
Chegou a visita do médico que proferiu a palavra há muito esperada:
- Alta.
Iniciaram-se os preparativos para ceder a cama a outro.
Nestas duas semanas passaram pela cama ao lado 4 pessoas.
O primeiro, o sr. Ribeiro, homem lúcido de quase 90 anos cedeu a cama ao sr. José, taxista, ex-emigrante, atencioso e preocupado. Tão preocupado que já telefonou a saber como estavam a correr as coisas.
Seguiu-se o Daniel. Jovem de 18 anos enfezados. Mais parecia um adolescente de 14 anos. O Daniel tem percorrido os corredores desta casa desde os 14 meses. Quando lhe deram autorização para ingerir refeições sólidas, provou e não gostou. Era peixe cozido! Mal as empregadas recolheram o tabuleiro, e porque tinha fome, a mãe foi ao farnel e deu-lhe uma sandes de presunto que “marchou” num ápice. No quarto dia de internamento teve alta e entrou o sr. Américo. Homem simples, prestes a fazer 70 anos. Era quinta-feira. A intervenção estava marcada para sexta. Pobre homem! Já estava preparado para a cirurgia quando lhe dizem que vai para casa.
- Sabe, os enfermeiros estão em greve e apenas asseguram os serviços mínimos.
E notou-se, pela quantidade de altas e camas vazias, que a luta estava a resultar de forma positiva.
Passou-se o fim-de-semana. O sr. Américo voltou e já foi operado. Já lá está há várias horas e ainda não regressou. Segundo a esposa, era mais complicado do que se pensava.
E o tempo escoa-se lentamente!
Nunca mais chega a autorização para levantar ferro!
Ordem emanada pela administração em resposta à autorização do clínico…
Indicações das enfermeiras sobre os cuidados a ter…
Já passaram mais de trinta minutos.
Agora, a espera começa a tornar-se ruidosa e sombria. Ninguém diz mais nada e a ansiedade cresce dentro do peito.
E chega a visita do médico assistente. Avaliação de todo o processo de internamento, decisões mais ou menos dolorosas:
- Já se fizeram 10 ciclos e, como a cicatrização ainda vai demorar, termina o tratamento e espera-se pelo futuro para ver a resposta do cancro.
Quando as coisas começarem a falhar reavalia-se outra vez tudo e estudam-se os passos a seguir.
No regresso a casa vou poder realizar todas as tarefas que têm estado suspensas por esta estadia no hospital.
Casa para arrumar…
Roupa e cortinas para lavar…
Enfim, vão voltar as rotinas do dia-a-dia geradoras de alguma serenidade e descanso.
Que bom ficar por casa sem ter o relógio a marcar os ritmos:
- sair cedo,
- ficar no IPO apenas atenta a todas as queixas e desesperos por não poder levantar-se, soros a correr, …
Voltar tarde e, apenas, deitar e dormir. Que bom voltar para a rotina, para ganhar, novamente, algum do meu tempo. Tempo para mim que é tempo para ti.

1 comentário:

mila disse...

Que bom!!!