28/10/2009

Orgia dos sentidos



O sopro que dá a vida é o sopro leve e delicado que brota e actua serenamente, deixando a sua marca indelével de amor e esperança.
O sopro que percorre todo o ser e transforma o individuo, não lhe permitindo que se mantenha o mesmo.
E assim nasce o Homem Novo!
O Homem que se deixa despir de medos e angústias e que passa a ser.
O Homem Novo!
Deixa-se transformar a partir do mais íntimo de si próprio, irradiando de alegria e entregando-se a um amor que sacia e alimenta, enfim, que vivifica.
E o Homem Novo toma o lugar do Homem Velho que se deixa amarrar pela falta de vontade e pelo pouco desejo de se manter aberto e atento a tudo o que o rodeia.
O Homem Velho que vive em si e para si, de forma egoísta e egocêntrica, moldando todas as suas vivências a uma vontade intrínseca de afirmar a sua própria negação e mediocridade. E, o pior de tudo, não consegue perceber que já está derrotado e amarfanhado pelos seus temores, aterrorizando tudo e todos os que estão à sua volta.
E a luta é desigual!
O Homem Velho continua com uma força brutal, obrigando-me a fechar os olhos, toldando-os e criando-lhes barreiras, quantas vezes difíceis de ultrapassar.
Contudo, deixo-me inebriar pelos sentidos e permito que me tomem numa orgia avassaladora de cheiros, cores, sabores e luminosidade.
Chamei-lhe a orgia dos sentidos.
Ao entrar no supermercado do El Corte Inglés, voltei-me para a direita e… puf!
Senti uma mistura saborosa que me entrou pelas narinas e me “obrigou” a tocar, mexer e saborear a intensidade da mistura de cheiros: a pão, a fruta madura, a legumes, enfim, a tudo o que a visão podia alcançar, obrigando-me a parar alguns segundos. Deixei-me acolher e acolhi todo um sem número de sensações que me transportaram para o Homem Novo.
O Homem Novo que olha e vê, que sente e cheira, que ouve e que saboreia.
E pensei:
Também no supermercado posso sentir o sopro que ajuda a renascer e a aprender a saborear o lado bom da vida.

Sem comentários: