13/02/2010

Subi a montanha


Subi a montanha!

Sentei-me e olhei em volta. A aurora despontava e o luzeiro enviava os seus primeiros raios, tímidos e “amorosos”, para a aventura de um novo dia.

E em silêncio, continuei a olhar em volta.

Acendem-se os verdes que me rodeiam e renasce a necessidade premente de escutar.

Fico atenta aos sinais.

Chocalhos

Balidos

Pipilares

Galos

Enfim!

Uma bebedeira de sons e de cores!

E deixo-me encantar!

E escuto a voz que vem de dentro e zune, qual insecto, de forma a fazer despertar todos os sentidos.

A “guerra” dos sentidos!

E ouço, de olhos arregalados a bondade e a alegria do que me rodeia.

Tento resistir.

Não consigo!

A vista alarga-se até ao horizonte ligeiramente nublado pelos restos do orvalho que, de forma lenta, se vão dissipando.

Paro e começo a agitar-me interiormente.

O que tens para me dizer?

Vá. Fala!

Começo a ouvir a tua voz no sussurrar alegre e ligeiro de um ribeiro que corre para abraçar o rio que já está perto. Vejo a linha de água, lá ao fundo, que brilha e reflecte os tímidos raios solares.

E a turbulência continua.

Tento resistir a tudo o que me quer dar luta e tirar-me as escamas que teimam em turvar o meu olhar.

Claro que está turvo apenas para o essencial.

Ao mesmo tempo que me deixo encantar pelo que observo, começo a encantar-me pelo que sinto, pelo TU.

TU que falas palavras de Amor e que começas a levantar as amarras que tolhem e não deixam ver com os olhos do coração.

Então, já estou preparada…

Agora começo a agitar-me pelo prazer de Te ouvir dizer-me que precisas de mim, confias em mim e tens um projecto para mim.

Agora sim!

Todos os sentidos ficaram apurados e atentos. Muito atentos.

Provocaste-me?

Respondo-te que sim. Podes contar comigo.

Já acabaste?

Estavas a agradar…

Mas… já sei. Chegou a hora de descer e enfrentar a realidade.

Agora que o calor estava a aquecer é que me envias?

Pois tem que ser. A vida não se faz apenas de contemplação mas transforma-se em contemplação. Quero contemplar o Teu rosto no rosto daqueles que mendigam por um sorriso e que à minha volta apenas vêem cinzento.

E vai acontecendo.

Na sala dos professores vou ouvindo e vou brincando.

Ontem, uma colega que está a sofrer por causa de um divórcio pouco pacífico e de doença grave de um familiar muito próximo, “escolheu-me” para falar, falar, falar e chorar.

É este o “vale” que vou frequentando.

Ouço, ouço, ouço e não dou receitas. Não as sei nem as tenho.

Passado mais de uma hora já era capaz de sorrir.

Como vês, desci a montanha e, no vale, vi o Teu rosto amoroso de Pai no sorriso daquela que continua a sofrer mas olha para mim de forma diferente e com um sorriso cúmplice.

É por aqui o meu caminho.

Subir e encher o peito.

Descer e estar atenta.

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