Subi a montanha!
Sentei-me e olhei em volta. A aurora despontava e o luzeiro enviava os seus primeiros raios, tímidos e “amorosos”, para a aventura de um novo dia.
E em silêncio, continuei a olhar em volta.
Acendem-se os verdes que me rodeiam e renasce a necessidade premente de escutar.
Fico atenta aos sinais.
Chocalhos
Balidos
Pipilares
Galos
Enfim!
Uma bebedeira de sons e de cores!
E deixo-me encantar!
E escuto a voz que vem de dentro e zune, qual insecto, de forma a fazer despertar todos os sentidos.
A “guerra” dos sentidos!
E ouço, de olhos arregalados a bondade e a alegria do que me rodeia.
Tento resistir.
Não consigo!
A vista alarga-se até ao horizonte ligeiramente nublado pelos restos do orvalho que, de forma lenta, se vão dissipando.
Paro e começo a agitar-me interiormente.
O que tens para me dizer?
Vá. Fala!
Começo a ouvir a tua voz no sussurrar alegre e ligeiro de um ribeiro que corre para abraçar o rio que já está perto. Vejo a linha de água, lá ao fundo, que brilha e reflecte os tímidos raios solares.
E a turbulência continua.
Tento resistir a tudo o que me quer dar luta e tirar-me as escamas que teimam em turvar o meu olhar.
Claro que está turvo apenas para o essencial.
Ao mesmo tempo que me deixo encantar pelo que observo, começo a encantar-me pelo que sinto, pelo TU.
TU que falas palavras de Amor e que começas a levantar as amarras que tolhem e não deixam ver com os olhos do coração.
Então, já estou preparada…
Agora começo a agitar-me pelo prazer de Te ouvir dizer-me que precisas de mim, confias em mim e tens um projecto para mim.
Agora sim!
Todos os sentidos ficaram apurados e atentos. Muito atentos.
Provocaste-me?
Respondo-te que sim. Podes contar comigo.
Já acabaste?
Estavas a agradar…
Mas… já sei. Chegou a hora de descer e enfrentar a realidade.
Agora que o calor estava a aquecer é que me envias?
Pois tem que ser. A vida não se faz apenas de contemplação mas transforma-se em contemplação. Quero contemplar o Teu rosto no rosto daqueles que mendigam por um sorriso e que à minha volta apenas vêem cinzento.
E vai acontecendo.
Na sala dos professores vou ouvindo e vou brincando.
Ontem, uma colega que está a sofrer por causa de um divórcio pouco pacífico e de doença grave de um familiar muito próximo, “escolheu-me” para falar, falar, falar e chorar.
É este o “vale” que vou frequentando.
Ouço, ouço, ouço e não dou receitas. Não as sei nem as tenho.
Passado mais de uma hora já era capaz de sorrir.
Como vês, desci a montanha e, no vale, vi o Teu rosto amoroso de Pai no sorriso daquela que continua a sofrer mas olha para mim de forma diferente e com um sorriso cúmplice.
É por aqui o meu caminho.
Subir e encher o peito.
Descer e estar atenta.
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