15/11/2010

retiro 2


No princípio…
E tudo acontece.
E tudo é gerado num crescendo que avança segundo o ritmo que se chama sucessão: dia/noite; vida/morte.
E tudo pára com a destruição/morte/caos.
E tudo recomeça, reorganiza-se no sentido de um tempo novo que emana a partir do caos – desespero, vida sem sentido que se vai consumindo e autodestruindo.
O homem fazedor de caos que se sente baralhado e se deixa ser fazedor de nada com sentido.
Então, onde está o caos?
No mais íntimo de nós próprios, no vir e devir do rancor gerador de morte em vez de se tornar vida.
Refazer-se é sentir-se co-autor desta mesma criação que nos foi dada de graça para a utilizarmos com respeito e amor.
E do vazio surge a ordem, a vida.
O vazio transforma-se, reaprende a gerar ordem e a viver a vida com sentido.

Criou-nos com sabedoria e com memória.
Memória para reaprender a saborear a vida de forma ritmada e a parar para escutar e sentir. Entender os compassos e perceber os silêncios que partem de uma nova dimensão do jogo. O jogo que nunca mais acaba, só que, agora, este jogo é jogado por nós.
Mais uma vez somos convidados a reaprender as regras e a usá-las sem fazer batota. Com a batota retorna o caos e é preciso começar de novo.
Há que não desanimar e re-começar sempre…
E o espírito de Deus pairava sobre as águas, sobre o caos, a preparar-se para actuar de novo.
E começa a respirar e a vibrar de forma diferente.
A forma da experiência já vivida que deixou de ser nada e passou pela bondade do perdão.
Então, o que é o caos?
Claro, é a ordem, a organização, a arrumação.
É a força que rompe as amarras que tolhem e não deixam ver com os olhos do coração, da seriedade, da sabedoria.
O cosmos, então, é a serenidade que abraça o ritmo da vida vivida ao jeito do Pai com o exemplo de Jesus.
É a música que não pára de crescer de forma orgasmica para criar novas vidas, novos sentimentos, novas forças!
O ritmo da natureza que se vai perdendo mas que se sente pelo pipilar das aves ao amanhecer, prontas para partir em busca de alimento, para partilhar ensinamentos e regras com as crias, para lhes transmitir o impulso que as ajudará a tornarem-se autónomas e auto-suficientes.
A vida ritmada pela cadência do espírito que respeita os tempos, os espaços, os silêncios que nos ensinam a letra da canção que se chama bondade e que se torna bela.
Então, tudo nos é dado de graça!
E nós?
Será que os queremos de graça?
Será que os respeitamos?
Será que os entendemos?
E inicia-se um novo diálogo!
A história do eu/tu em relação íntima.
E começa a dança!
A dança que nos ajuda a mergulhar no mais fundo de nós próprios e permite clarear o que existe de mais negro e boçal bem no nosso interior.
A dança dançada a dois, três,… marcada pelo compasso dialogado em que todos se ouvem e já não há cada um a falar para seu lado, de novo mergulhados no caos e no vazio.
E… pára, emerge, torna-se perfeito pois foi confiando, desimpacientando-se e vivendo ao jeito de Jesus num crescendo de vontade e fazer bem para ser feliz, porque calou até ao silêncio absoluto e aí ouviu a voz do “calor” e da vida.

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